A força-tarefa da Operação Lava Jato Rio apontou ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), em recurso para que volte à prisão o ex-presidente Michel Temer (MDB), “fato concreto de continuidade de exercício do poder de influência” dos investigados por desvios nas obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio.

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Os procuradores anexaram ao documento um e-mail, de 2011, no qual o então presidente de Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, indicou um nome para a diretoria de Operações da subsidiária da Eletrobrás: Leonam dos Santos Guimarães, atual presidente da estatal.

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Othon foi alvo de uma das primeiras fases da Lava Jato no Paraná. Em julho de 2015 ele foi preso por ordem do então juiz federal Sérgio Moro. O almirante está condenado a uma pena de 43 anos de reclusão por propinas em contrato da Eletronuclear.

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O e-mail que a Lava Jato resgatou foi enviado por Othon para o empresário Carlos Alberto Montenegro Gallo em 6 de fevereiro de 2011, às 14h42. “Prezado Gallo, peço fazer chegar o currículo anexo às mãos do Limoeiro com a maior brevidade. Cargo desejado diretor de Operações da Eletronuclear. Muito importante. Obrigado. Othon.”

A Lava Jato afirma que “Limoeiro” é o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho, amigo de longa data do ex-presidente.

Segundo o site da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães também é membro do Grupo Permanente de assessoria do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) desde abril de 2010.

“Foi diretor técnico-comercial da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa SA – Amazul de agosto de 2013 a abril de 2014 e assistente da Presidência da Eletrobrás Eletronuclear S.A. de outubro de 2005 a agosto de 2013”, informa a subsidiária.

“É doutor em Engenharia Naval e Oceânica pela USP, mestre em Engenharia Nuclear pela Universidade de Paris XI e capitão-de-mar-e-guerra da reserva do Corpo de Engenheiros da Marinha do Brasil, a qual serviu por 30 anos (1975-2005). É autor de vários livros e artigos sobre engenharia, gestão e planejamento.”

Carlos Gallo, coronel Lima, Temer e o ex-ministro Moreira Franco (Minas e Energia) foram presos pela Operação Descontaminação em 21 de março. Quatro dias depois, todos foram soltos por ordem do desembargador Ivan Athié, do TRF-2.

Segundo a Lava Jato, “a única explicação plausível para esse encaminhamento seria o nome desse indicado chegar ao conhecimento de Michel Temer, como de fato chegou, tanto que houve sua nomeação”.

“Atualmente Leonam dos Santos Guimarães ainda ocupa o cargo de presidente da Eletronuclear”, aponta a investigação.

Temer e seus aliados são réus da Descontaminação. Nesta terça-feira, 1, o juiz federal Marcelo Bretas aceitou acusação formal contra os investigados. Foram abertos dois processos criminais contra o ex-presidente.

Além de Temer e Moreira Franco, o TRF-2 julgará recursos do Ministério Público Federal contra a soltura do coronel Lima, da mulher dele Maria Rita Fratezi e dos empresários Carlos Alberto Costa, Carlos Alberto Costa Filho, Vanderlei de Natale e Carlos Alberto Montenegro Gallo.

Defesas

O criminalista Antonio Sérgio de Moraes Pitombo, defensor do ex-ministro Moreira Franco, declarou. “A defesa de Wellington Moreira Franco vem esclarecer que vê com naturalidade o recurso do Ministério Público Federal, não obstante não encontre uma linha daquela petição que possa concordar.”

Em nota, o criminalista Eduardo Carnelós, que defende Michel Temer, afirmou que “a decisão que concedeu liminar para determinar a libertação de Michel Temer é sólida, consistente e amparada no Direito. O agravo interposto pelo MPF não trouxe nenhum elemento idôneo capaz de justificar a alteração daquela decisão do Desembargador Federal Ivan Athié. Por isso, o que se espera é que a Turma Especializada do TRF-2 conceda a ordem e torne definitiva a liminar, para cassar a decisão que decretou a prisão preventiva”.

A defesa de João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, exercida pelos advogados Maurício Silva Leite e Cristiano Benzota, informou que “ainda não teve acesso ao recurso apresentado pelo Ministério Público Federal, mas declarou que a decisão que restituiu a liberdade ao sr. Lima e irretocável e cumpriu rigorosamente o que prevê a Constituição Federal, além de demonstrar a serenidade e imparcialidade do Tribunal ao apreciar a questão.”

Em nota, a Eletronuclear e Leonam dos Santos Guimarães afirmam:

“Leonam dos Santos Guimarães trabalhou com Othon Luiz Pinheiro da Silva no programa nuclear da Marinha de 1986 a 1992. Em 2005, quando assumiu a Presidência da Eletronuclear, Othon convidou Leonam, que naquela ocasião estava indo para a reserva, para ser seu assistente. A relação entre os dois sempre foi de chefe/subordinado, sem laços especiais de amizade.

O e-mail citado no recurso do MPF é de 2011 e não resultou em nenhuma nomeação. Leonam admite que, na ocasião, foi sondado por Othon para assumir a Diretoria de Operação da Eletronuclear, mas desconhece o encaminhamento dado à questão.

Segue abaixo a relação dos cargos ocupados por Leonam desde que chegou na Eletronuclear. Vale ressaltar que as recentes indicações para a Diretoria Técnica e a Presidência são resultado do robusto processo de elegibilidade implementado nas empresas Eletrobras no fim de 2016, como parte do Programa de Compliance Eletrobras 5 Dimensões, em atendimento à Lei das Estatais.

2005-2013: Assistente Técnico da Presidência da Eletronuclear

2013-2014: Diretor Técnico-Comercial da Amazul Tecnologias de Defesa S.A.

2014-2017: Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear

2017-2018: Diretor Técnico da Eletronuclear

2018-Hoje: Diretor Presidente da Eletronuclear”