Lava Jato apura papel de sócio de Zelada em negócios de navios-sondas

O empresário Raul Schmidt Fellipe Filho, sócio do ex-diretor de Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada – preso na Operação Conexão Mônaco, no dia 2 -, é investigado pela força-tarefa da Lava Jato pelo recebimento de “comissão” em contratos de navios-sondas da coreana Samsung Heavey Industries. O ex-diretor Nestór Cerveró (antecessor de Zelada) e o lobista do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, são acusados de receberem US$ 30 milhões de propina nesses contratos.

“Raul Schmidt Fellipe também possuía ligação com a Samsung, estaleiro responsável pela construção dos navios-sonda Petrobras 10000 (que segundo a auditoria da Petrobras teve pelo menos U$ 11,9 milhões de superfaturamento) e Vitória 100000, cuja aquisição pela estatal foi objeto de denúncia pelo MPF”, registra a força-tarefa da Lava Jato em pedido de prisão de Zelada.

Pelo menos US$ 3 milhões da Samsung passaram por uma conta aberta em nome da offshore Goodal Trade Inc, das Ilhas Virgens Britânicas, que segundo autoridades do Principado de Mônaco seria controlada por Raul Schmidt.

“Na documentação enviada por Mônaco consta um contrato de comissionamento envolvendo a Samsung como contratante e duas empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas como contratadas, a Barvella Holding Corp. e a Goodal Trade Inc – esta última é uma offshore de propriedade de Raul Schmidt Fellipe, enquanto o proprietário da primeira ainda é ignorado”, informou o MPF ao juiz Sérgio Moro no pedido de prisão.

Os contratos da Samsung com a Petrobras foram assinados em 2006 e 2007, na gestão de Cerveró, antecessor de Zelada. Eles previam a construção dos navios-sondas Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, ambos superfaturados.

A Procuradoria considera ter comprovado nesse caso o pagamento de US$ 30 milhões em propina a Cerveró e ao lobista Fernando Baiano – que estão presos em Curitiba – por meio do lobista Julio Gerin Camargo, delator da Lava Jato com elos com integrantes do PT.

Camargo, como representante da coreana Samsung em parceria com os japoneses do Grupo Mitsui, confessou ao juiz Sérgio Moro ter pago os US$ 30 milhões por intermédio de Fernando Baiano para Cerveró. O processo em que os três são réus por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa está em fase final, na Justiça Federal, em Curitiba.

Descobertas

A força-tarefa da Lava Jato considera peculiar o papel de Raul Schmidt nesses negócios e está aprofundado a coleta de dados. O empresário, que vive na Suíça, é investigado como elo de Zelada na lavagem de dinheiro supostamente desviado por ele da Petrobras em dois outros navios-sondas, que sucederam os fechados por Cerveró, com a Samsung.

Zelada teria recebido propina nos contratos com a Pride International, de 2008, para construção do ENSCO DS-5, e com a Vantagem Deepwater Company, em 2009, para o Titanium Explorer.

Nas buscas por dados desses contratos, a Lava Jato chegou a Raul Schmidt. O alvo foi gerente da Braspetro Oil Service, em Angola, e representante da norueguesa Sevan Marine, no Brasil.

Raul é sócio do ex-diretor de Internacional preso pela Lava Jato desde 2010 na TVP Solar Brasil – uma subsidiária da empresa TVP Solar – sociedade de tecnologia ligada à utilização de energia solar térmica, sediada em Genebra.

Documentos enviados por Mônaco revelam ainda a existência de um contrato de comissionamento de US$ 20 milhões, assinado e 18 de outubro de 2007, pela Pride Internacional – vencedora do contrato do ENSCO DS-5 – como origem dos US$ 3 milhões pagos ao sócio de Zelada. O contrato “previa uma comissão de broker para a intermediação de um contrato de construção de navio-sonda com a Pride International, a qual negociava uma contratação pela Petrobras”, registra a força-tarefa.

A partir desse contrato é que autoridades de Mônaco identificaram o depósito de US$ 3 milhões, no dia 15 de abril de 2011, da Samsung para a conta da Goodal, no Banco Luius Bär, no Principado de Mônico, que seria de Raul Schmidt.

Elos

“Há indicativos de que a parceria entre Raul Schmidt Fellipe e Jorge Luiz Zelada é utilizada para lavagem de dinheiro obtido ilicitamente por intermédio de contratos com a Petrobras”, afirma a Procuradoria no pedido de prisão de Zelada.

Além de ter relação direta com os desvios supostamente cometidos do Zelada, a Lava Jato quer saber qual foi o papel de Raul Schmidt na intermediação entre os dois primeiros contratos de navios-sondas da Samsung, assinados na gestão Cerveró, e os dois contratos feitos com Zelada, em especial o terceiro, de 2008, com a empresa Pride.

Raul Schmidt informou que não atua mais no setor petrolífero desde 2007. “Atualmente, é sócio e membro do conselho da TVP Solar, empresa do setor de energia solar, que tem sede na Suíça e fábrica na Itália”, informou, via advogado de defesa, Leonardo Muniz.

O empresário afirma ainda que atua como investidor em companhias “start-ups” na área de tecnologia de ponta “principalmente em empresas ligadas a energias limpas”.

O criminalista afirma que a única relação comercial mantida pelo cliente com Zelada “se dá na TVP Solar”. O empresário afirma ser cofundador da norueguesa Sevan marine e que mora há 10 anos fora do Brasil.

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