Durou 36 horas a resistência do governador cassado do Maranhão, Jackson Lago (PDT), que ameaçava só deixar o Palácio dos Leões “arrastado”. Pouco antes das 11 horas de ontem, ele saiu do palácio com palavras de ordem – “meio passo atrás, Sarney nunca mais” – e anunciou, diante de duas centenas de militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), da Via Campesina e de diversos movimentos sociais: será candidato a governador em 2010, com o apoio de uma ala petista do Maranhão que segue fiel ao governo Lula, mas combate o clã Sarney.
“Quem sabe isso tudo não é para nos prepararmos melhor e chegarmos ao governo e ao poder com o compromisso de um grande governo popular”, disse Lago. “Vamos deixar o palácio inteiro, com todo o seu patrimônio, todas as obras de arte.” E levantou suspeitas sobre a família da governadora Roseana Sarney (PMDB), já empossada: “Eles podem chegar aqui e fazer o que sabem fazer bem: desaparecer com os quadros.”
Lago ficou aquartelado como última tentativa de resistir à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que na quinta-feira cassou o seu mandato e confirmou no cargo a ex-senadora Roseana. Ele foi acusado de abuso de poder político em 2006.
“O presidente Lula está escorado em um bando de corruptos do PMDB a partir do José Sarney”, discursou o deputado Domingos Dutra (PT-MA), principal expoente da ala petista que apoia Lago, mas é adversária ferrenha de Roseana.
“Vamos dizer para o Brasil, para o mundo, até para o Lula que o Maranhão não aceita a volta da oligarquia dos Sarney”, bradou o deputado estadual Valdinar Barros, também do PT, que acusou a família Sarney de grilagem de terras.
A saída de Lago do Palácio dos Leões foi decidida na noite de sexta-feira, depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter se negado a rever a decisão da Justiça Eleitoral. Para resistir por mais tempo e complicar a vida de Roseana, Lago esperava o apoio da população, o que acabou não ocorrendo.
“Meio passo atrás, Sarney nunca mais”, cantavam os manifestantes, quando Lago saiu do palácio. “Xô Rosengana”, dizia uma das muitas bandeiras que lotaram o pátio interno do Palácio dos Leões, uma fortaleza construída pelos franceses no século 17.
Lago ouviu uma dezena de discursos de representantes dos movimentos sociais, condenando a decisão da Justiça Eleitoral. Até um padre, anunciado como Vitor Acelin, lamentou a sua saída. Um grupo queimou um boneco representando o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), chefe do clã.
Depois dos discursos, o ex-governador percorreu, ao lado da mulher Clay e do filho Igor, as ruas do centro histórico de São Luis que separam o Palácio dos Leões até a sede do PDT. A passeata de meia hora não empolgou a população.