Amado Boudou se tornará em 15 de julho o primeiro vice-presidente argentino a entrar num tribunal para responder a um inquérito. A decisão de convocar o vice da presidente Cristina Kirchner foi anunciada ontem pelo juiz federal Ariel Lijo, que o investiga pela suposta aquisição irregular da empresa gráfica Ciccone.

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A empresa depois ganharia o nome de Companhia Sul-americana de Valores, em conjunto com um grupo de sócios que teriam agido como testas de ferro de Boudou.

No dia da declaração à Justiça, o vice estará exercendo funções de presidente em exercício, já que Cristina estará fora do país, no Brasil, como convidada especial da reunião dos Brics.

Líderes da oposição voltaram a exigir a renúncia do vice, que se tornou o integrante mais impopular do governo Kirchner. No entanto, ontem, antes de partir para El Salvador, em viagem oficial, Boudou declarou que não renunciará ao cargo. “Sou inocente”, afirmou.

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Setores do kirchnerismo admitem – discretamente – que o vice se tornou um peso morto para a presidente.

O “Caso Ciccone” transformou-se no maior escândalo de corrupção do governo Kirchner, provocando, segundo diversas pesquisas, uma queda persistente da popularidade de Cristina desde que veio à tona semanas após a reeleição presidencial de 2011. Nos últimos três anos, Boudou – além de tráfico de influências – também se tornou suspeito de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.

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A lei argentina determina que o delito de negociações incompatíveis com a função pública sujeita o autor a condenação de 2 a 6 anos de prisão, além do impedimento total de exercer cargos públicos por entre três e dez anos. Na hipótese de levar o vice ao banco dos réus, o juiz Lijo poderá pedir o fim da imunidade de Boudou. Mas para isso será necessário que o Parlamento remova o privilégio.

O escândalo Ciccone veio à tona em dezembro de 2011, quando investigações revelaram pistas que indicavam que Boudou teria favorecido o empresário Alejandro Vanderbroele, diretor do fundo holandês “The Old Fund”, na compra da gráfica, que estava a ponto de falir. Boudou também teria intercedido por intermédio da Receita Federal para salvar a Ciccone do pagamento de pesadas dívidas tributárias.

Depois, Boudou teria favorecido a empresa ao conseguir o contrato para a impressão de notas de 100 pesos, já que a Casa da Moeda não estava conseguindo abastecer a demanda de cédulas. Simultaneamente, Boudou cancelou os planos para modernizar a Casa da Moeda. A companhia foi estatizada em 2012.

Vanderbroele é apontado como testa de ferro do vice. No entanto, Boudou nega qualquer vínculo com o empresário e afirma que nunca o viu. Paradoxalmente, o vice aluga seu apartamento no bairro de Puerto Madero para um sócio de Vanderbroele. O misterioso empresário também pagava o condomínio e a TV a cabo do apartamento de propriedade do vice. A ex-mulher de Vanderbroele diz que ele e Boudou “são amigos desde a juventude”. O vice afirma que as acusações são um “ataque mafioso” dos jornais Clarín e La Nación. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.