Em meio às discussões sobre a revisão dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trata a questão do ponto de vista “político”. “O governo acende uma vela para Deus e outra para o diabo e, dessa forma, vai-se equilibrando em dois palanques”, disse o deputado, que foi ministro do Desenvolvimento Agrário entre 1996 e 2002.
A revisão dos índices de produtividade é demanda antiga dos movimentos sociais. Por outro lado, representantes do setor agrícola são contrários à mudança. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) anunciou a revisão dos índices após uma reunião, em Brasília, entre o presidente Lula e dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), no mês passado.
Depois das repercussões negativas de parlamentares do PMDB – um dos partidos da base aliada do governo no Congresso -, de lideranças do agronegócio e do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o assunto não foi discutido novamente. “E, assim, o governo vai se equilibrando, do ponto de vista político”, afirmou Jungmann.
O prazo para publicação da portaria com os novos índices foi fixado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, em 15 dias a partir de 18 de agosto. O prazo venceu ontem, e não há previsão para uma definição do governo sobre o assunto. Em entrevista à Agência Estado, Jungmann disse que continua defendendo a reforma agrária, mas classificou a proposta do governo de “um equívoco que vai trazer insegurança para o coração do agronegócio”. “A esta altura, num momento de crise, é inviável uma alteração que não seja discutida, pactuada”, disse.
Para o deputado, a atual proposta do governo, se levada adiante, “vai criar uma insegurança jurídica muito grande”, além de “tocar fogo no campo”. “O governo não consegue segurar o MST. E os fazendeiros, para protegerem suas propriedades, vão contratar milícias”, previu. Na avaliação de Jungmann, a distribuição de terras não resolve o problema da reforma agrária. “É preciso assistência técnica. O governo cobre um santo para descobrir o outro”, finalizou.