Os jornais europeus dão hoje amplo destaque à eleição presidencial no Brasil. Diversas publicações trazem um balanço dos oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e, apesar das dúvidas lançadas pelas recentes pesquisas de intenção de voto sobre a vitória da candidata do PT no primeiro turno, a mídia europeia aponta que Dilma Rousseff deverá se tornar a primeira mulher presidente do País. Para as publicações europeias, mesmo que o resultado não for definido hoje, Dilma deve vencer no segundo turno.
O passado de guerrilheira política e o apoio de Lula, considerado definidor da preferência do eleitorado, foram citados pelos jornais estrangeiros. Já no domingo passado, o inglês The Independent havia trazido como um de seus títulos: “Ex-guerrilheira Dilma Rousseff deve se tornar a mulher mais poderosa do mundo”. Hoje, o espanhol El País trata Dilma como “ex-guerrilheira marxista leninista, convertida em economista” e ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula. Para o diário espanhol, a única dúvida é se a candidata vence hoje ou no segundo turno.
Na avaliação do Financial Times, com ou sem segundo turno o resultado será uma vitória “confortável” de Dilma. Na edição do fim de semana, o FT a descreve como uma “tecnocrata, com pouco carisma, quase sem popularidade e sem base política que possa chamar de sua”, catapultada de relativa obscuridade por Lula. O jornal britânico avalia que o candidato do PSDB, José Serra, não conseguiu apresentar alternativa à “mistura poderosa” de Lula, formada pela “ortodoxia econômica e generosos gastos sociais”.
A publicação também discute qual deverá ser o papel de Lula no novo governo e avalia que o atual presidente pode ter uma influência forte sobre Dilma, considerando até a possibilidade de nomeação de Antonio Palocci para algum cargo importante. A sucessão presidencial é a manchete do site do francês Le Monde hoje, com o título: “Dilma Rousseff, a herdeira designada por Lula para o Brasil”.
O legado da era Lula, que vai chegando ao fim, também é analisado pelas publicações. De forma geral, os jornais tratam da ascensão econômica e social do Brasil, com destaque para a redução da pobreza, e da popularidade obtida pelo presidente, perto de 80%, após oito anos no governo.
O The Observer, publicação dominical do The Guardian, traz artigo do correspondente no Rio de Janeiro, que analisa as alterações econômicas no País ao tratar do ambiente requintado do bar Londra, no hotel Fasano, e de mudanças vistas nas favelas da cidade. Segundo o jornal, alguns dizem que os resultados obtidos na era Lula são fruto do boom das commodities ou das reformas adotadas pelo seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. “Mas ninguém pode argumentar com os números da popularidade (de Lula)”, diz o The Observer. Para o Le Monde, Lula foi do “socialismo ao paternalismo”. A política do atual presidente é considerada pragmática, que oscila entre o “centro e a centro-esquerda, entre a tradição e a modernidade”. “A consagração de um homem do povo”, diz o jornal.