Em junho de 2013, Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) – hoje rivais na disputa presidencial – negociavam o congelamento da tarifa de ônibus e metrô em São Paulo. Jair Bolsonaro (PSL) ainda era um deputado do baixo clero da Câmara, conhecido apenas pelas declarações polêmicas.

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Na época, analistas diziam que as chamadas “jornadas de junho” marcavam uma nova era na relação da população com os políticos. Em São Paulo e outras capitais do País, os gritos de “sem partido” tomaram os atos. Nos dias que se seguiram, a pauta das manifestações cresceu e passou a incluir a demanda por melhores serviços públicos, como saúde e educação.

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Analistas veem nas reivindicações um sintoma de que a parcela da população que ascendeu socialmente nos governos do PT deixaria de ter seus anseios atendidos. “Naquelas manifestações, ficou claro que uma parte importante da sociedade – jovens, a classe média urbana e a nova classe média – ficou prostrada pela perda de algumas vantagens”, afirmou o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Unesp. “Tudo isso formou uma espécie de bolo cuja liga foi dada pela ideia de contestação dos políticos.”

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Agora, a grande questão que será colocada a partir de janeiro, seja quem for o vencedor da eleição, é a reconstrução da política. “É o fim de uma época: PSDB deverá sumir e o PT não vai sair bem”, disse Nogueira. “Os partidos mais fortes foram os que perderam mais e a derrota deles foi um pouco diferente.”

O cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, concorda. “O PT foi o grande prejudicado (desde 2013). Mas claro que sobrou para os outros partidos. O PSDB não encontra facilidade que acreditava que teria.”

No ano seguinte, a então presidente Dilma Rousseff ainda se reelegeria numa disputa apertada com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Apesar de a petista ter prometido, durante a campanha, manter conquistas como o desemprego baixo e o aumento da renda, 2015 foi um ano de ajustes econômicos e recessão. Ao mesmo tempo, a Operação Lava Jato ganhou força nos anos seguintes, prendendo políticos e empresários.

Mobilização

Grupos à direita criados em meio as manifestações de 2013, como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) passaram a liderar protestos anticorrupção em todo País pedindo a saída da presidente. Ali, as primeiras faixas com pedidos por intervenção militar começaram a aparecer.

“Essa onda de ordem e autoridade tem a ver mais com a Lava Jato, que desnudou a corrupção de uma maneira tão ostensiva que acabou por sensibilizar muita gente”, disse Nogueira. “Isso criou um sentimento de ‘quero mais’, de levar essa onda até o limite, defendendo mais rigor e mais autoridade.”

Em 2016, Dilma foi afastada do cargo após um processo de impeachment. Temer, com o partido envolvido em várias denúncias na Lava Jato, assumiu com a promessa de reformas para amenizar a profunda crise econômica. O novo presidente conseguiu aprovar a reforma trabalhista e a regra do teto de gastos, mas também sofreu com suspeitas de corrupção.

Para analistas, é nesse cenário que Bolsonaro encontra o espaço para se estabelecer e chegar à disputa de hoje como favorito. Por um lado, com a direita mobilizada nas redes e nas ruas, a esquerda passou à defensiva. Por outro, os partidos tradicionais perdem o monopólio do antipetismo para um discurso ainda mais polarizador.

“Esses personagens surgem dentro de uma dinâmica de redes sociais e começam a ganhar terreno com o discurso do antipetismo, antilulismo e antiesquerda”, disse Prando. “E aí ele começa a capitalizar em cima deste movimento contra o politicamente correto. Esse terreno importantíssimo que ele ganhou está evidente agora.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.