Foto: Agência Brasil |
Jobim não soube articular sua vitória e jogou a toalha. |
Brasília – O ex-deputado e ex-ministro Nelson Jobim desistiu de disputar com o deputado Michel Temer (SP) a presidência do PMDB e comunicou sua decisão ao comando do partido. ?Os acontecimentos das últimas horas enunciam opção objetiva do governo quanto à disputa no PMDB. Diante disso, resta-me afastar-me em definitivo da contenda?, diz o comunicado de Jobim enviado ontem à presidência nacional do partido.
O comunicado de Jobim é uma referência à provável decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de entregar o cargo de ministro da Integração Nacional ao deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Anteontem, Lula recebeu Geddel e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que apadrinha a indicação do deputado para o Ministério da Integração. Na eleição passada, Geddel apoiou a candidatura de Wagner a governador, que derrotou o grupo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
O grupo de Temer defendia reforma antes da convenção de 11 de março. O grupo de Jobim defendia reforma ministerial somente após a convenção. Lula, ao avançar na negociação com Geddel, contrariou profundamente Jobim. No PMDB, comenta-se que Jobim ficou muito irritado com a decisão de Lula de antecipar a reforma. Ontem, às 15 horas, Lula recebeu em audiência o adversário de Jobim na disputa, o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer, que concorre à reeleição.
A indicação de Geddel Vieira Lima para o ministério era uma reivindicação da bancada peemedebista na Câmara, que, em sua grande maioria, trabalha para reeleger Temer. Jobim vinha sendo aconselhado por governadores e aliados a renunciar à candidatura a presidente do PMDB, ante o favoritismo de Temer na disputa.
Descontente
O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que toda a cúpula do partido que apoiava a candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim a presidente nacional da legenda ?se sente liberada? em relação ao governo, depois da movimentação atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a favor da candidatura à reeleição do presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer (SP).
A afirmação de Calheiros foi feita no Salão Azul do Senado, onde criticou a administração federal no mesmo tom duro que empregara, pela manhã, numa conversa telefônica com Lula. Encarregado por Jobim de comunicar a ele a desistência da candidatura, o presidente do Congresso queixou-se ao petista, durante o telefonema, do que chamou de ?interferência do governo? na sucessão interna da agremiação.
?Diante de tudo o que aconteceu, nós nos consideramos liberados? afirmou, referindo-se à aliança fechada entre o Poder Executivo e os peemedebistas. Calheiros declarou-se ?100% solidário com a nota (de desistência) e com Jobim, política e moralmente?. O presidente do Senado completou: ?Não dá para ter uma disputa partidária (a convenção do PMDB, marcada para domingo) com óbvia e objetiva interferência (do governo)?. Sobre as conseqüências do episódio nos resultados das votações de interesse do Executivo na Casa e na montagem da coalizão de mandato, Calheiros foi evasivo: ?Não posso predizer o que vai acontecer. Não sei se a coalizão corre risco, não cuido de coalizão. Isso terá de ser tratado, institucionalmente, pelas instâncias do partido?.
O chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Tarso Genro, disse que causou surpresa ao governo a decisão de Nelson Jobim de desistir da disputa à presidência nacional do PMDB. ?Em nenhum momento, o governo interferiu na sucessão interna do PMDB?, disse Genro, em resposta às afirmações de Jobim.