Às vésperas de divulgar a lista de políticos implicados na Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, começou uma intensa rodada de conversas reservadas com alguns nomes da cúpula do governo. Na manhã desta quinta-feira, 26, Janot esteve no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer (PMDB). O procurador também recebeu em seu gabinete, por volta das 20h de anteontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

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Segundo as assessorias das três autoridades, em nenhum dos encontros tocaram no assunto Lava Jato – hoje, a maior preocupação do mundo político. Com Cardozo, o tema teria sido a garantia de sua própria segurança – o ministro teria ido avisá-lo sobre ameaças detectadas pelo setor de inteligência do governo. A Polícia Federal, porém, não tem nenhum relatório a respeito do tema. Com o vice-presidente, a discussão teria sido sobre orçamento da Procuradoria-Geral da República. Janot, no entanto, já havia tratado do assunto com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, na sexta passada.

Na versão oficial, Janot procurou Temer para pedir ajuda na liberação de dinheiro previsto no Orçamento para reajustar salários de servidores do Ministério Público, em greve desde o início do mês. Temer relatou a interlocutores que, ao receber Janot em sua casa, “morreu de curiosidade, mas não teve coragem de perguntar nada sobre Lava Jato”. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), dois dos principais dirigentes do PMDB, foram mencionados por delatores da Lava Jato. Os dois negam envolvimento com o esquema. Cunha se reuniu com Temer após o encontro com o procurador. O deputado nega que o vice-presidente tenha relatado a ele o encontro com Janot.

Segurança

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Segundo fontes da Procuradoria-Geral, no encontro realizado na noite de anteontem, Cardozo foi ao gabinete de Janot para alertar que o departamento de Inteligência do Ministério da Justiça detectou que a segurança do procurador pode estar ameaçada. Ele sugeriu, por exemplo, que o chefe do Ministério Público deixe de voar em avião de carreira e reforce o efetivo de guarda-costas.

Entretanto, o único órgão de inteligência ligado ao Ministério da Justiça é a Polícia Federal, mas não foi elaborado nenhum relatório sobre ameaças à segurança de Janot – procedimento de praxe nesses casos. Tampouco o procurador solicitou, até a noite de ontem, reforço à Polícia Federal.

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A versão de Cardozo é diferente. Em entrevista coletiva ontem, ao ser perguntado sobre sua reunião com o procurador, o ministro afirmou que foi pessoalmente até a Procuradoria-Geral discutir a criação de uma vice-procuradoria de combate à corrupção. O ministro disse ainda que a reunião já havia sido marcada há algum tempo para tratar de “medidas legislativas de combate à corrupção”.

“Estou preparando um conjunto de medidas por determinação da presidente da República acerca do enfrentamento da corrupção”, disse Cardozo. O ministro da Justiça já responde à Comissão de Ética da Presidência da República sobre encontros que manteve com advogados de empreiteiras investigadas na Lava Jato. Assim como ocorreu com a reunião com Janot, o encontro com os advogados não foi divulgado na agenda oficial de Cardozo.

Parlamentares

Nos bastidores, a estimativa é de que pelo menos 40 parlamentares tenham sido citados nos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Em dezembro, o Estado revelou uma lista com 28 nomes de parlamentares, governador e ex-ministros que foram citados por Costa. Entre eles estão deputados e senadores do PMDB, PP, PR e PT.

O governo e os órgãos do Judiciário trabalham com a chegada da lista entre terça e quarta-feira. No Supremo Tribunal Federal, as duas delações deram origem a 42 procedimentos, número que não coincide necessariamente com o número de parlamentares investigados, mas sim com os fatos que estão sendo apurados. Além dos investigados na Corte, Janot vai enviar pedidos de abertura de inquérito, arquivamento ou oferta de denúncia para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde já estão procedimentos em que os governadores Tião Vianna (PT-AC) e Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) são citados.

O ex-ministro Mário Negromonte também aparece entre os nomes citados que têm foro no STJ por ocupar cargo no Tribunal de Contas da Bahia. Há uma expectativa de que o relator do caso nesse tribunal, o ministro Luís Felipe Salomão, retire o sigilo das peças em todos os pontos em que isso não comprometa as investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.