Os dados da quebra do sigilo telefônico de Delúbio Soares e Silvio Pereira, feita pela CPMI dos Correios, revelam uma sucessão de coincidências que reforçam a suspeita sobre a proximidade entre os dois ex-dirigentes do PT e o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), acusado de ser o distribuidor do mensalão em seu partido.
A primeira delas: ao contrário do que sustentaram em seus depoimentos à CPI, o ex-tesoureiro e o ex-secretário-geral do PT conversavam freqüentemente com José Janene, inclusive pelo celular. Registros obtidos pelo site Congresso em Foco mostram que o deputado disparou 73 telefonemas para os então dirigentes petistas entre os meses de fevereiro de 2003 e setembro de 2004.
As informações revelam ainda outra curiosa coincidência: há uma proximidade entre as datas dos telefonemas e as dos saques feitos pelo chefe-de-gabinete de Janene, João Cláudio Genu, das contas do empresário Marcos Valério Fernandes, apontado como principal operador do mensalão. A lista de sacadores de Marcos Valério mostra Genu como responsável por sete saques, no valor total de R$ 4,1 milhões, no período de setembro de 2003 e julho de 2004.
Mesmo sem ocupar a liderança do PP naqueles dois anos, Janene é o único deputado progressista que aparece constantemente nos registros telefônicos em poder da CPMI do ex-tesoureiro e do ex-secretário-geral do PT. Em uma das vezes, Janene telefonou para o celular do então tesoureiro do PT 15 dias antes do primeiro saque de Genu, na agência do Banco Rural, em Brasília. Foi no dia 2 de setembro de 2003.
No dia 17 daquele mês, o chefe-de-gabinete do deputado fez a primeira de sete retiradas de dinheiro na mesma agência bancária, localizada num shopping da capital federal, segundo consta da lista de sacadores entregue pelo empresário à Procuradoria-Geral da República. De acordo com a relação de Valério, Genu sacou, naquela ocasião, R$ 1 milhão.
A coincidência entre os telefonemas e os saques despertou a atenção da CPI porque Janene, Delúbio e Silvinho, pivôs do escândalo, jamais admitiram proximidade alguma. Um dos 13 acusados pelo relatório conjunto das CPIs dos Correios e do Mensalão como beneficiários do esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada, o deputado pode começar a responder ainda esta semana a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara.
O atual líder do PP conversou mais com o ex-secretário-geral do PT, que renunciou ao cargo e se desfiliou do partido após a denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que seria um dos coordenadores do mensalão. Entre fevereiro de 2003 e setembro de 2004, os dois conversaram por 51 minutos, em 39 ligações telefônicas.
Desde a última quinta-feira (6), a reportagem de Congresso em Foco tentou, sem sucesso, conversar por telefone com o líder do PP na Câmara. Segundo informações de seu gabinete, Janene está de licença médica. O ex-tesoureiro e o ex-secretário-geral do PT também não retornaram os contatos feitos pelo Congresso em Foco. (Ricardo Ramos e Diego Moraes, Congresso em Foco)
