Às 5h45 do dia 21 de junho, o motorista Pedro Alcântara Brandão Filho, de 54 anos, morador do bairro de Guarapiranga, zona sul da capital paulista, foi acordado pela Polícia Federal batendo à porta. “Eles vieram com mandado de busca, né? Aí, o delegado se identificou, falou o que precisava e, quando falou que era da Lava Jato… Quero dizer, Lava Jato não, né? Da Dersa, né?”, disse.

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Brandão Filho foi um dos 15 alvos da Operação Pedra no Caminho, que apura suspeita de desvio de R$ 600 milhões em obras do Rodoanel Trecho Norte. A operação prendeu dois ex-dirigentes da Dersa: Pedro da Silva e Laurence Casagrande Lourenço, que foi secretário de Transportes no governo Geraldo Alckmin (PSDB). O motorista trabalhou para a família de Pedro da Silva e é investigado por suspeita de lavagem de dinheiro para o ex-dirigente da Dersa. Silva e Laurence negam irregularidades.

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Em entrevista exclusiva, Brandão Filho disse ter feito depósitos e que era orientado a informar aos bancos que os recursos – segundo a PF, foram R$ 253 mil por meio de 12 depósitos – tinham como origem a venda de gado. “Mas eu não sabia a origem, né?” A seguir, os principais trechos da entrevista.

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Como foi acordar com a PF na sua porta?

Um surpresa! Tenho 54 anos de idade e nunca passei por isso na minha vida. A polícia chegar dentro da minha casa às seis horas da manhã, 15 para as 6. Eles vieram com mandado falando que era da Operação Lava Jato… Quero dizer, Lava Jato não, né? Da Dersa, né?

E como foi?

Entraram na minha casa, viram que era uma casa humilde, aí eles pediram desculpa e o delegado virou para mim e falou: ‘É, o senhor entrou como laranja’. Eu expliquei que trabalhei para ele (Pedro da Silva). E que ele me pedia para fazer esses depósitos. Eu nunca perguntei do que era, né? Eu fui como laranja nessa história.

O senhor trabalhava para ele?

Eu fui motorista da esposa dele. Eu trabalhei três anos e oito meses. Quatro anos. De 1994 a 1998. Quando ele era presidente da Dersa.

Como era a relação com ele?

Eu o via muito pouco. Era mais aos finais do semana.

E qual era o serviço que o senhor prestava para a família?

Eu levava as crianças para a escola.

As investigações mostram que o senhor fez depósitos em contras das empresas SCJ Agro e Star Bar, suspeitas de terem sido usadas para lavar dinheiro. O senhor conhece essas empresas?

A Star Bar era um bar e restaurante dele (Pedro da Silva), mas era a esposa dele que comandava mais. E a SCJ é uma fazenda que ele tem lá em Bofete (no interior paulista).

A fazenda existe?

Creio que sim. Ele cria gado.

O senhor fez depósitos de valores em espécie…

Isso, isso, valores altos!

Do que se tratavam esses depósitos?

Foi isso que a polícia perguntou para mim, né? Era um dinheiro que a esposa dele me dava e eu nunca cheguei a perguntar. Eu levava, era só portador do dinheiro. Nunca perguntei (a origem).

A mulher dele era quem entregava o dinheiro?

Isso. (O dinheiro) Era (entregue) dentro de pastas, em mochilas.

Mochilas?

Já cheguei a encher mochila, porque o valor era muito alto.

E o sr. não sabia a origem do dinheiro?

Ela só falava que era da fazenda, mas eu não perguntei. Eu só perguntei uma vez porque eu fui depositar na Caixa Econômica e eles pediram meu CPF. Estranhei e falei para ela: ‘Olha, dona Adriane, eles pediram meu CPF’. Ela respondeu que era só para controle mesmo, porque eu era portador do dinheiro. Não deu em nada, mas eu fiquei com medo, assim, né? Era muito dinheiro, né? Valores altos. Uma vez, ela falou que era folha de pagamento lá da fazenda.

E como o sr. levava o dinheiro?

Eu levava de carro.

E como foi a ação da polícia?

Meu celular ficou preso com eles. Eles disseram que depois de um mês eles devolveriam, para saber se eu tinha contato com alguma coisa, né? Mas, graças a Deus, eu fui como laranja nessa história.