Itamaraty admite revisão de Itaipu com o Paraguai

O secretário-geral das Relações Exteriores do Brasil, Samuel Pinheiro Guimarães, disse, ontem, que o Brasil vê com tranqüilidade o processo eleitoral no Paraguai, marcado para o próximo dia 20, e revelou que o Itamaraty admite sim discutir a política energética bilateral com o vizinho. A negociação nos valores da energia produzida por Itaipu é um dos temas mais debatidos na campanha presidencial paraguaia.

?Não há questões que não possam ser discutidas, mas, da mesma forma, vemos com muita tranqüilidade (o processo eleitoral) porque consideramos que Itaipu é um sucesso?, disse o funcionário em uma coletiva na chancelaria paraguaia, em Assunção.

Co-proprietário da hidrelétrica e com direito a utilizar 50% da energia produzida, o Paraguai vende ao Brasil o excedente não utilizado (quase o total a que tem direito) por preço estabelecido por tratado, valor que é considerado baixo pelos paraguaios.

A destinação da parte paraguaia da energia de Itaipu é um dos pontos fundamentais na discussão dos presidenciáveis sobre o desenvolvimento do país. Enquanto alguns candidatos defendem que o país incentive o uso da energia que tem direito produzida para o crescimento industrial do país, outros querem, apenas, que os valores pagos pelo Brasil pelo excedente paraguaio sejam revistos. E entre os que defendem uma negociação com o Brasil, está o líder nas pesquisas de intenção de voto, o oposicionista Fernando Lugo, da União Democrática pela Mudança.

?Naturalmente, em um processo eleitoral, os candidatos têm posições distintas, mas nós temos muita tranqüilidade. Assim como temos as melhores relações com a Bolívia, temos também as melhores relações com o Paraguai e isso continuará?, garantiu o diplomata brasileiro, lembrando dos incidentes com a Bolívia ao preço do gás natural, em 2006.

As declarações de Guimarães divergem da opinião do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que, na semana passada, por ocasião de visita de Lugo ao Brasil, declarou que o governo brasileiro não pretende renegociar o contrato da Hidrelétrica de Itaipu com o Paraguai. ?Esse tema não está em discussão. Temos argumentos não só de natureza jurídica, mas de natureza técnica também. O Brasil já fez concessões importantes no sentido de eliminar uma série de fatores que poderiam criar alguma assimetria nas relações?, afirmou, dizendo não prever conflito com o Paraguai por conta desta posição. ?Se ele (Lugo) for eleito presidente, vamos ter uma relação normal com ele, como teremos relação normal com qualquer outro presidente. Não acredito que nenhum presidente do Paraguai queira ter uma relação de hostilidade com o Brasil, muito pelo contrário?, disse.

A menos de duas semanas das eleições no Paraguai, Fernando Lugo lidera as pesquisas de intenção de voto com, até, 10 pontos percentuais de vantagem para Lino Oviedo (Unace) e Blanca Ovelar (Colorado), mas os analistas políticos locais ainda admitem a possibilidade de resultado diferente, devido ao número de indecisos e ao apoio do governo à candidatura de Ovelar.

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