O ex-presidente e senador Itamar Franco (PPS), de 81 anos, faleceu na manhã deste sábado, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde o dia 21 de maio para tratar de leucemia. Desde então, ele permanecia licenciado de suas atividades no Senado. Nos últimos dias, o ex-presidente apresentou um quadro de pneumonia grave e precisou ser transferido para a UTI do hospital.

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Baiano no registro civil, Itamar se tornou um dos mais destacados e comentados políticos mineiros das últimas décadas. Para o País, surgiu na eleição presidencial de 1989, como candidato a vice de Fernando Collor de Mello. Terminou por assumir a Presidência da República após o impeachment do ex-governador alagoano. Mesmo entre os mais críticos, Itamar costumava ser reconhecido pela retidão ética. Igual reconhecimento ele sempre cobrou em relação ao legado da estabilidade do País: econômica, com o lançamento do Plano Real durante seu governo; e política, com a transição após o desastroso desfecho da gestão Collor.

Itamar nasceu em 28 junho de 1930 a bordo de um navio de cabotagem, no mar entre o Rio de Janeiro e Salvador. A mãe, dona Itália Cautier, havia ficado viúva de Augusto César Stiebler Franco pouco antes do nascimento do filho e o registrou na capital baiana, onde morava um tio. Mas Itamar cresceu e tomou gosto pela política em Juiz de Fora (MG), origem de sua família.

Engenheiro civil, formou-se em 1955 e naquele mesmo ano estreou na política se filiando ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em vão, tentou se eleger vereador em 1958 e vice-prefeito, em 1962. Alcançou o primeiro cargo público – a prefeitura da cidade – cinco anos depois, já filiado ao antigo MDB após o golpe militar de 1964 e o estabelecimento do bipartidarismo. Ficou no Executivo municipal até 1971. No ano seguinte, conquistou um novo mandado na prefeitura, mas em 1974 renunciou e foi eleito senador por Minas Gerais.

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Já no PMDB, após o restabelecimento do pluripartidarismo, Itamar foi reeleito para mais um mandato de senador em 1982, na chapa que levou Tancredo Neves ao governo de Minas. Em 1986, deixou o PMDB e filiou-se ao PL para disputar o governo de Minas. Acabou derrotado justamente pelo peemedebista Newton Cardoso, que havia lhe fechado as portas no antigo partido.

Itamar voltou ao Senado, participou dos trabalhos da Assembleia Constituinte, mas antes de encerrar o mandato aceitou o convite do então jovem governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, para compor como vice a chapa vitoriosa na campanha presidencial de 1989. O senador por Minas deixou então o PL para ingressar no obscuro Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Mas rusgas com Collor começaram ainda na campanha. Tanto que o presidenciável teria solicitado uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se poderia trocar seu candidato a vice.

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Com o impeachment de Collor, Itamar assumiu formalmente a Presidência em dezembro de 1992. Já havia se desligado do PRN e procurava cada vez mais acentuar as diferenças com o ex-presidente, acossado por uma sucessão de denúncias de corrupção. No cargo, Itamar propôs uma política de entendimento nacional, mas sua gestão derrapava na escolha do primeiro escalão, para onde tinha levado antigos companheiros de Juiz de Fora. Por isso, seu governo passou a ser conhecido como a “república do pão de queijo”.

Para cientistas políticos, o momento crucial do governo Itamar, porém, se dá mesmo com a chegada de Fernando Henrique Cardoso ao Ministério da Fazenda, quando começa a implantação do Plano Real, que resulta na estabilidade econômica do País. “Itamar foi um personagem errático, seu acerto foi chamar o Fernando Henrique Cardoso”, avalia o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo. á para Rubem Barboza Filho, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Itamar demonstrou nesse episódio “enorme cálculo político”. “Uma aposta que só um político audacioso poderia fazer”, observou.

O sucesso do plano econômico impulsionaria a eleição de FHC naquele ano e Itamar ganhou como prêmio as embaixadas brasileiras em Portugal e na Organização dos Estados Americanos (OEA). Mas seu sonho era voltar ao Palácio do Planalto. Ele se sentiu traído quando o Congresso aprovou a reeleição e rompeu relações políticas com seu ex-ministro em 1998. Itamar acusou Fernando Henrique de interferir na convenção extraordinária do PMDB, que lhe tirou a chance de disputar a Presidência naquele ano.

Depois de passar pelo governo de Minas Gerais, Itamar continuou ativo na política nacional e, filiado ao PPS, ele foi eleito senador no ano passado, numa campanha que contou com forte presença de Aécio Neves.