O primeiro ano de governo do próximo presidente da República será marcado pelo investimento ainda estagnado, ou mesmo em queda, na avaliação de economistas, analistas e acadêmicos ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ao longo desta semana. A recuperação da confiança dos empresários e a retomada no fluxo de investimentos devem ocorrer só em 2016 e tendem a ter o ritmo mais acelerado com a vitória da oposição. Os candidatos Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) são considerados pelo mercado mais liberais do que a presidente Dilma Rousseff (PT), o que beneficia o empreendedorismo privado.

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O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, é pessimista e espera piora do investimento em 2015. Ele cita o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil, que, em sua estimativa, deve cair no ano que vem para nível inferior aos US$ 60 bilhões previstos para 2014, independentemente de quem for eleito. Além dos ajustes internos, a baixa, segundo Afonso Lima, ocorrerá em linha com a retração nos investimentos em países emergentes.

“Não dá para acreditar que por conta de uma alteração no governo, independente de quem assumir, o atual cenário de investimento mudará em 2015”, reforçou o professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) Alberto Borges Matias

De acordo com o presidente da Sobeet, o ritmo de retomada da taxa de investimento no Brasil, a partir de 2016, dependerá de quem será o presidente. Com Marina ou Aécio eleitos, ele estima que os investimentos poderiam atingir 21% do PIB em 2016. O economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Juan Jensen, concorda. Segundo ele, em eventuais governos da oposição, a taxa de investimento do Brasil deverá superar os 20% do PIB.

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Já num segundo mandato de Dilma, a taxa só voltaria para os 18% do PIB apurados em 2013 num prazo de dois anos, de acordo com as previsões de Lima. Jensen avalia que, com a reeleição de Dilma, o investimento ficaria praticamente estável próximo às taxas de hoje – entre 17% e 18% do PIB. “Nossa visão é de que tem muita incerteza por parte dos investidores. Vimos muitas intervenções do atual governo na economia, com alterações de regras no meio do jogo”, justificou.

Privatizações

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Um dos fatores que levam os especialistas a atribuírem maior possibilidade de avanço dos investimentos no caso de uma vitória de Aécio é o histórico de privatizações do PSDB, já que a percepção é de que isso favoreceria os investimentos diretos em infraestrutura. O tucano e Marina, de acordo com o professor Matias, “mostraram claramente que o modelo adotado seria o de menor intervenção do Estado na logística e infraestrutura, com concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs)”.

“Dilma, pelo histórico, continuará fazendo mais do mesmo, expandindo crédito, apostando no aumento da renda para estimular a demanda e, se fizer algumas mudanças, será contra a vontade dela”, disse. “Da Marina a gente só conhece o programa de governo, que toca em pontos sobre os quais o empresariado vem reclamando há muito tempo. O PSDB tem histórico e experiência para resgatar a confiança do investidor doméstico e estrangeiro”, completou Afonso Lima.

Jensen aponta ainda que a Taxa Interna de Retorno (TIR) dos investimentos poderá sofrer interferência do governo caso Dilma seja reeleita. Nos governos de Marina ou Aécio, ele avalia que a TIR seria definida pelo mercado, desde que sejam criadas condições competitivas. Ainda para o economista, o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de investimentos tende a se reduzir numa eventual gestão de Marina ou de Aécio.

Já o sócio fundador da GO Associados, Gesner Oliveira, avalia que o BNDES seguirá com papel fundamental no financiamento de projetos de infraestrutura no próximo governo, independentemente de quem seja o vencedor. “Seria ilusório imaginar que, de repente, haverá a substituição pelo financiamento privado.”

Para Oliveira, o fato de Aécio ter anunciado Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda, caso seja eleito, é positivo para as estimativas de investimento. Segundo ele, sinais “positivos e claros” de candidatos para as políticas econômicas e de investimentos animam empresários.

Oliveira considera um avanço as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e as concessões no governo Dilma e cobra uma sinalização mais clara dos candidatos de que essas ações continuarão. “Marina e Aécio têm uma propensão a colocar o Estado na condição de regulador e menos interventor. Eu acho um bom sinal e também entendo que Dilma evoluiu nessa questão e, portanto, tem havido convergência dos candidatos que aceitaram a realidade”, avaliou.