O Ministério das Relações Exteriores afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “nunca houve qualquer forma de contato direta ou indireta”, do ministro Celso Amorim “com qualquer membro ou representante das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)”. Outros funcionários do governo também negaram qualquer ligação com o grupo guerrilheiro. No Palácio do Planalto, o assunto foi tratado com cautela e o governo evitou pronunciar-se oficialmente a respeito do dossiê publicado pela revista Cambio, da Colômbia, que acusa cinco ministros e altos assessores brasileiros de envolvimento com o grupo guerrilheiro colombiano.
A reportagem cita, entre outros, o chefe de gabinete do governo, Gilberto Carvalho, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o chanceler Celso Amorim e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Marco Aurélio Garcia disse ontem que “não há nenhuma cooperação do governo brasileiro com as Farc”.
Chefe de Gabinete
Gilberto Carvalho assegurou que ele e o governo têm uma “relação zero” com as Farc e reiterou que “a posição brasileira é claramente contra os seqüestros e os métodos” do grupo guerrilheiro. Segundo Carvalho, seu nome é mencionado por causa de um pedido feito ao subsecretário de Direitos Humanos, Perly Cipriano – também citado pela revista -, em favor do ex-padre Antonio Cadena Collazos, conhecido como Oliverio Medina e considerado “embaixador” das Farc no Brasil.
A deputada petista Erika Kokay, apontada na reportagem como um dos facilitadores de uma atividade política supostamente coordenada com as Farc, negou qualquer envolvimento com o grupo. Mas ela admitiu que colaborou com o processo que permitiu a concessão do status de refugiado a Oliverio Medina, dois anos atrás. “Nunca tive qualquer tipo de relação com as Farc e só conheço o padre Oliverio e apoiei seu status de refugiado, pois ele corria risco de morte se fosse repatriado”, disse Erika.
Revista Cambio
A divulgação da reportagem em uma revista tida como ligada ao presidente Álvaro Uribe e cuja linha editorial é definida pelo irmão do ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, causou “estranheza” entre assessores do Planalto. Eles negaram qualquer tipo de envolvimento de seus integrantes com pessoas ligadas às Farc.
Mesmo destacando as boas relações entre o Brasil e a Colômbia, membros do governo questionavam o que poderia estar por trás da publicação. Lembravam, por exemplo, que o ministro da Defesa colombiano era contra a participação do Brasil na União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Eles também indagavam por que foi divulgada apenas parte dos e-mails sugerindo o envolvimento de brasileiros e não a totalidade, deixando de lado os que mostravam que o governo não apóia as ações da guerrilha.
Já o secretário especial de Direitos Humanos da Presidência, Paulo Vanucchi, afirmou ontem que a única atuação de sua pasta, em relação a Oliverio Medina, restringiu-se ao atendimento de uma solicitação do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Vanucchi disse, por meio de sua assessoria, que o conselho pediu em 2006 à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência o acompanhamento da situação carcerária de Medina, detido no Presídio da Papuda. A queixa era a de que Medina, com problemas de saúde, não tinha direito a banho de sol e estava detido com presos comuns. O subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, foi visitar Medina na Papuda.