O Instituto Lula lança nesta terça-feira, 1, o “Memorial da Democracia”, um portal na internet que tem como objetivo contar a história dos personagens, lutas populares e principais acontecimentos políticos que levaram ao avanço das conquistas democráticas no País.
O site estreia com dois módulos, o primeiro abrange o período entre o golpe militar de 1964 e a eleição de Tancredo Neves, em 1985. O segundo vai de 1985 até a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Os módulos que vão tratar dos governos Lula e Dilma Rousseff ficarão para outro momento.
“O país ainda está pagando com vazios de informação e formação criados pela ditadura”, disse a ex-assessora especial da Presidência, ex-deputada estadual e atual diretora do Instituto Lula, Clara Ant.
Segundo ela, o memorial será lançado neste momento em que a defesa da democracia se tornou um assunto recorrente nos meios políticos e nas manifestações de rua, por coincidência.
A ideia original era construir um museu em um terreno cedido pela Prefeitura de São Paulo em 2012, durante a gestão do então prefeito e atual ministro das Cidades, Gilberto Kassab. No entanto uma liminar da Justiça bloqueou a iniciativa da prefeitura. Enquanto o caso se arrasta na Justiça, o Instituto decidiu migrar para o espaço digital.
O site oferece, por enquanto, um vídeo de apresentação que lista personagens e fatos marcantes desde a colonização portuguesa e duas linhas do tempo compostas por centenas de matérias de jornais e fotografias da época, documentos históricos, músicas, vídeos e texto.
Além das questões políticas, o memorial aponta fatos em outras áreas como música, teatro, cinema, literatura e comportamento.
No módulo inicial o foco é a luta contra a ditadura militar. As greves do ABC, que deram projeção nacional a Lula, a campanha pelas Diretas Já e a fundação do PT, têm papel de destaque. Mas também há espaço para fatos como o Rock’n Rio, em 1995, o “verão da lata”, em 1987, e o lançamento da revista Chiclete Com Banana.
No bloco seguinte, a atenção se volta para questões econômicas como a hiperinflação, a Assembleia Nacional Constituinte, as eleições de 1989, 1994, 1998 e 2002. O Plano Real, o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, e o controle da inflação sob o comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ganharam espaço generoso. “Foi uma conquista importantíssima”, admite o texto.
Na sequência, porém, os governos tucanos são tratados de forma crítica, com destaque para escândalos como o caso Sivam, a CPI dos Precatórios e as privatizações.
O período é descrito como “neoliberal” e termina com a eleição de Lula, em 2002. O texto lembra as manifestações que pediam “Fora FHC” mas, no momento em que o PT acusa os defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff de golpismo, lembra que o partido rejeitou formalmente o slogan.
A fundação do PSDB, em junho de 1988, também ficou de fora. “É que se fizéssemos este recorte teríamos que falar de todos partidos criados entre o final da ditadura e 2002”, explicou Clara Ant.
De acordo com ela, as lacunas poderão ser preenchidas pelos próprios usuários do memorial por meio de uma ferramenta que permite acréscimos e correções.
Segundo Clara, a prioridade na produção do conteúdo foi o rigor histórico. Ela, no entanto, admite que a história contada no memorial passou pelo prisma das pessoas próximas a Lula.
“É evidente que a nossa leitura está marcada pela nossa compreensão da história. É assim com absolutamente todo mundo. Neste sentido, há um viés, sim”, disse ela.
O trabalho foi coordenado inicialmente pelo ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi e depois pelo ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins. O lançamento será no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, às 18h, com a presença de Lula.