Insatisfeitos com a intervenção autorizada pelo presidente do PSDB, Aécio Neves, no diretório gaúcho do partido, líderes tucanos estão criando um grupo dissidente no Rio Grande do Sul, que terá sede própria e sairá em busca de filiados pelo Estado.
O movimento PSDB Democrático será formalizado com uma reunião fechada na noite desta terça-feira, 13, em Porto Alegre. Entre os simpatizantes à causa está a ex-governadora Yeda Crusius e dois deputados estaduais, Jorge Pozzobom e Adilson Troca. Em junho, Aécio assinou uma resolução cancelando a convenção do diretório estadual e entregando o comando a uma comissão temporária encabeçada pelo único representante do PSDB-RS em Brasília, o deputado federal Nelson Marchezan Junior.
A decisão se estendeu a alguns diretórios municipais, que também passaram a ser dirigidos por comissões provisórias. Na época, Marchezan defendeu que a manobra era fundamental para reestruturar a legenda com o objetivo de conquistar maior representatividade no Estado – o PSDB-RS deveria deixar o posto de coadjuvante na política gaúcha.
Segundo ele, a executiva nacional vinha discutindo com a direção estadual anterior a necessidade de realizar mudanças na organização da sigla, mas não estava sendo atendida. O principal ponto de discordância seria o fortalecimento do PSDB nos municípios, para ter mais candidaturas próprias a vereador e prefeito no ano que vem, construindo uma base forte de olho nas eleições de 2018. Marchezan dizia que a intenção era profissionalizar o partido no Rio Grande do Sul, colocar metas e crescer.
O advogado André Barbosa, que já foi secretário-geral da legenda em Porto Alegre e é um dos idealizadores do PSDB Democrático, alega que a intervenção fragmentou o partido, ao invés de uni-lo. A bancada tucana na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul está dividida ao meio – enquanto Pozzobom e Troca (este último ex-presidente do PSDB-RS) apoiam o grupo dissidente, Pedro Pereira e Zilá Breitenbach são do núcleo de Marchezan.
Já o único vereador do partido em Porto Alegre, Mario Manfro, estaria em negociação para se filiar ao PSB na próxima janela eleitoral. Um simples telefonema à sede oficial do PSDB-RS, em Porto Alegre, deixa clara a divisão interna. Funcionários do local só respondem pelos integrantes que estão ao lado de Marchezan.
“Nosso movimento é a favor da democracia interna, não é contra ninguém, não. Seria até um contrassenso, eu toquei a campanha do Aécio aqui no ano passado”, disse Barbosa. “Vamos continuar trabalhando pelo partido, mas não queremos retroceder.” O grupo dissidente formulou um manifesto que será assinado por líderes na reunião desta noite e, depois, entregue a Aécio pela ex-governadora Yeda Crusius, que integra o executiva nacional do PSDB. Eles querem reverter a intervenção.
“A gente espera que a executiva nacional constate que tomou uma decisão precipitada, sem conhecer a realidade. A maior parte dos potenciais candidatos a vereador e prefeito não concorda com o rumo que se tomou”, disse. Ele reclama do fato de nenhuma liderança nacional ter visitado o Estado nos últimos meses para verificar a situação do PSDB gaúcho. “Foi uma decisão de gabinete.”
Prefeitura
O pano de fundo deste conflito interno pode ser a disputa à Prefeitura de Porto Alegre, no ano que vem. Marchezan sempre foi cotado para concorrer pelo PSDB e tinha apoio de parte do partido. Agora, o grupo dissidente quer a realização de prévias para definir quem será o candidato. Um dos nomes defendidos é o da ex-governadora Yeda.
O movimento PSDB Democrático espera reunir cerca de 100 lideranças na leitura e assinatura do manifesto na noite desta terça-feira, na capital gaúcha, algumas vindas do interior. No encontro também será montada uma agenda para os próximos dois meses. O objetivo é ter cerca de 2 mil filiados de todo o Estado em 30 dias e fazer um congresso estadual do grupo em novembro.