A queda de 63% para 55% da proporção de brasileiros que consideram ótima ou boa a gestão da presidente Dilma Rousseff pode ser explicada principalmente pelas dificuldades econômicas que o governo vem enfrentando, como a evolução da inflação, e os entraves no diálogo do Planalto com o Congresso, vistos, por exemplo, na recente votação da Medida Provisória 595, conhecida como MP dos Portos, avaliou o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antônio Carvalho Teixeira, ao comentar os dados da pesquisa CNI/Ibope divulgados nesta quarta-feira, 19.

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“A inflação tirou o poder de compra das famílias, sobretudo das famílias de classe média para baixo, que formam o grande contingente eleitoral que tem, de certa forma, possibilitado vitórias políticas ao PT”, afirmou ele. “Se no passado esse poder de compra era a virtude, ele passa, à medida que vai se deteriorando, a ser o problema.”

A pesquisa da CNI/Ibope foi realizada entre os dias 8 e 11 deste mês, com 2.002 pessoas, em 143 municípios, antes, portanto, de a onda de protestos tomarem conta do País, o que só ocorreu a partir do dia 13, quando houve confronto entre manifestantes e policiais na capital paulista.

Questionado sobre se a tendência é de queda ainda mais expressiva da popularidade da presidente Dilma nos próximas levantamentos, Teixeira contemporizou a questão. “Há dados positivos da indústria, que voltou a crescer e um PIB (Produto Interno Bruto) um pouco melhor este ano. Mas o governo permanece com pautas negativas diante da opinião pública.” Segundo ele, o governo precisa melhorar a economia e o diálogo com a base aliada. O cientista político disse ainda que “o governo não vai vencer a disputa eleitoral em 2014 por WO (sem adversários), como se imaginava”.

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Teixeira ainda não vê qual ou quais políticos podem se beneficiar das manifestações, uma vez que os protestos são “contra tudo e contra todos”. “Não é apenas o governo federal. É uma insatisfação nos três níveis: federal, estadual e municipal.” Questionado sobre se a possível candidata Marina Silva, que ainda luta para criar seu partido, o Rede Sustentabilidade, não conseguiria angariar o voto dos manifestantes, o professor da FGV afirmou que ela já tem um público cativo, mas que a opção religiosa dela, por exemplo, pode colocá-la em um “mar difícil de navegar”. Marina é evangélica.

Padilha

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A pesquisa CNI/Ibope mostrou que 66% dos entrevistados desaprovam as medidas do governo federal na área da Saúde. O ministro da pasta, Alexandre Padilha, é cotado para concorrer pelo PT ao governo do Estado de São Paulo em 2014. Para Teixeira, o resultado é “preocupante”. “Padilha precisa primeiro se credenciar dentro do partido. Se a pasta dele é condenada do ponto de vista eleitoral, já começa difícil.”