No mesmo dia em que parentes sepultavam os três homens mortos na Terra Indígena Tenharim Marmelos, em Humaitá, sul do Amazonas, os cinco índios presos pelo crime foram retirados nesta quinta-feira, 6, da Penitenciária Estadual Edvan Mariano (Pandinha), onde cumpriam prisão temporária, e transferidos para o Centro de Ressocialização do Guaporé, em Porto Velho (RO). A unidade é considerada mais branda que o presídio em que os índios estavam. “Já começam a aliviar a situação dos autores dos crimes, quando na verdade deveriam fechar o cerco e prender outros participantes”, reagiu o advogado das famílias das vítimas, Carlos Terrinha.
A transferência foi feita a pedido da Justiça, após um representante da Defensoria Pública da União (DPU) ter visitado a penitenciária para apurar denúncias de que os indígenas eram vítimas de violação dos direitos humanos. De acordo com as denúncias, os índios dormiam no chão. “Os índios têm de ser tratados como os outros brasileiros. Então, que se esvazie todo o presídio. Não é momento de aliviar a situação deles, quando as famílias estão sepultando suas vítimas”, disse Terrinha. Segundo ele, o tratamento diferenciado faz crescer o descontentamento e dificulta a reconciliação entre brancos e índios. “O ministro Cardozo (José Eduardo Cardozo, da Justiça) precisa estar atento a isso.”
O defensor público Edilson Santana Gonçalves Filho, responsável pelo caso, não quis falar sobre o assunto, assim como o juiz Márcio André Lopes Cavalcante, da 2ª Vara Criminal, que ordenou a mudança. Os índios são acusados das mortes do professor Stef Pinheiro, de 43 anos, do técnico Aldeney Ribeiro Salvador, de 40, e do representante comercial Luciano Ferreira Freire, de 30. Eles haviam sumido na reserva indígena no dia 16 de dezembro e os corpos só foram encontrados numa vala, na última segunda-feira, 3. Os sepultamentos ocorreram nesta quinta, num clima de tristeza e revolta, com pedidos de paz e justiça. Em Apuí, onde foi enterrado o corpo de Stef, as aulas foram suspensas. No enterro, pessoas mostravam faixas e cartazes. O corpo de Aldeney foi sepultado em Manaus, no cemitério do parque Tarumã, acompanhado por 500 pessoas. O corpo de Luciano foi enterrado em Humaitá, em clima de emoção.