Além de trazer consequências políticas para a corrida presidencial do ano que vem, o indeferimento do registro da Rede Sustentabilidade, partido que Marina Silva tenta criar para disputar as eleições 2014, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), poderá obrigar a ex-senadora a escolhas que poderão prejudicar a sua imagem e o capital político que acumulou ao longo dos anos. Além disso, significa a derrota da própria Justiça Eleitoral brasileira. Essa é a opinião dos cientistas políticos Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Humberto Dantas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

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Para Dantas, a questão mais importante não é a eventual derrota política da Marina, mas a “derrota da Justiça Eleitoral brasileira”. Na sua avaliação, a Justiça Eleitoral brasileira deu, neste caso, “mais um espetáculo de sua total incapacidade técnica de fazer com que as coisas andem de acordo com o que as leis estabelecem”.

Na impossibilidade de disputar a Presidência da República pela Rede Sustentabilidade, Carvalho Teixeira diz que a ex-senadora só terá duas opções: renunciar aos planos de concorrer à sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT) ou procurar abrigo em uma outra legenda já existente.

Segundo o professor da FGV, no caso de optar por um partido já consolidado, existe o grande risco de Marina perder a integração com a sociedade civil. “O charme da candidatura de Marina é o advento do novo, uma alternativa, um processo político fora dos padrões. Isso representa uma fragilidade na própria concepção da sua candidatura. Existe um risco, neste caso, de que sua imagem seja machucada. Quando ela saiu do PV foi exatamente por isso, denunciando falta de debate, falta de espaço, falta de democracia”, explica.

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Para o cientista político, é difícil identificar uma possível legenda para Marina no quadro político atual. “O Partido Ecológico Nacional (PEN) é um partido novo, que não tem a mínima estrutura para conduzir uma campanha eleitoral presidencial. De outro lado, o próprio Partido Popular Socialista (PPS), é uma legenda com uma cara muito bem definida e está envolvido até o pescoço no projeto político do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)”, avalia Teixeira.

Ele alerta para os riscos que uma escolha da ex-senadora para o PPS, por exemplo, poderá provocar, que é a migração de parte dos votos da Rede para outros projetos políticos.

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Falência

Nas críticas à Justiça Eleitoral, Humberto Dantas destaca que muitos cartórios deram respostas “à beira da lei”, como por exemplo “esse cidadão já aderiu a outros partidos”, ou “simpatizou com outras legendas”. “Isso demonstra, mais uma vez, a falência total do caráter técnico da Justiça Eleitoral, que cria determinadas fantasias de ambientes que não combinam com aquilo que a lei diz”, reitera.

“É claro que existe uma dificuldade política da Marina em não conseguir fundar um partido. Entretanto, a não aceitação de um partido que acreditou na lei e a aceitação de dois outros partidos que caminham à margem da lei com assinaturas de mortos, assinaturas duplicadas, filiação de defuntos, falsificação de assinaturas, isso, no meu entender, representa a derrota da Justiça Eleitoral”, salienta o professor do Insper. Ele argumenta que “partidos que apostaram em irregularidades vão disputar as eleições no ano que vem, enquanto aquele partido que acreditou na lei acabará fora da disputa eleitoral”. E lamenta: “Essa é a cara do Brasil.”

O cientista político avalia que sem a Rede Sustentabilidade, muitos eleitores de Marina Silva devem aumentar o grupo de indecisos ou dos que votarão branco ou nulo. “A massa de pessoas que não acreditam ou desacreditam nas instituições políticas brasileiras deve aumentar, engordando a distância e apatia entre a população e a política”, conclui Dantas.