Foto: Agência Brasil

Lula: presidente está preocupado mesmo é com um marqueteiro tão bom quanto Duda Mendonça.

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O desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de construir palanques fortes nos estados para a reeleição, ainda está distante da realidade. A resistência de Lula em anunciar que concorrerá a novo mandato, a menos de nove meses da disputa, emperra as decisões do PT, especialmente a escolha de um coordenador político capaz de fazer alianças que ampliem o tradicional apoio de PCdoB e PSB.

O atraso e a falta de perspectiva afastam do presidente o cobiçado PMDB. O partido atravessou o governo petista rachado entre o apoio e a oposição a Lula  e agora está tomando outro rumo: quer ter candidato próprio ao Planalto e avalia ter chances de eleger pelo menos 16 governadores e uma bancada parlamentar poderosa para influir no próximo governo, seja qual for.

Nem os defensores do governo no PMDB, que contam com ministérios e cargos federais, arriscam dizer que haverá acordo com o PT. No máximo, parcerias regionais. "Não há a hipótese de o PMDB dar o vice a alguém. Se há algo que une o PMDB é a candidatura própria, o projeto de poder. Até para alavancar as candidaturas estaduais", diz o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que meses atrás defendia a aliança para reeleger Lula.

Segunda-feira, o PT se reúne para tratar do futuro. O presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), admite que nada ainda foi feito no campo das alianças. "Enquanto o presidente Lula não der uma palavra afirmativa, limita as articulações para o fechamento das alianças. Isso só deve acontecer em abril ou maio", prevê Berzoini. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, diz que até o fim de fevereiro o presidente deve conversar com os comandos dos partidos aliados e montar um mapa para a análise, caso a caso, dando prioridade à eleição nacional. E diz que o PT ainda aposta no PMDB.

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Wagner reconhece que a tese da candidatura própria do PMDB cresce e pode se legitimar esta semana, com a inscrição do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, nas prévias do partido marcadas para março. Wagner, porém, diz acreditar que a decisão de Lula e a definição das regras eleitorais podem mudar o cenário.

Hoje, vale a verticalização, regra que submete as alianças regionais à coligação nacional. Trata-se de uma interpretação da lei que pode ser alterada pela Câmara ou pela Justiça Eleitoral.

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Berzoini joga fichas na divisão do partido mais cobiçado.

"O PMDB tem um peso muito grande. Mas sabemos que em qualquer situação, mesmo com uma aliança nacional, o partido nunca virá unido", diz Berzoini.

No PMDB, ganha peso o discurso do candidato próprio. Para Rigotto, que deve disputar a indicação com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, não há outra alternativa: "A prévia está se concretizando a cada dia. Os que porventura defendem ainda uma aliança com o PT ou com o PSDB vão ficando cada dia mais isolados. É uma tese irreversível", afirma Rigotto.

PMDB acha que acabou a contagiante onda Lula

Brasília – Na ala governista do PMDB sobram críticas ao ritmo petista. Para um ex-ministro desse grupo, não há chance de reeleição para o presidente sem seu partido, porque acabou a "onda Lula", que embalou 2002. E o PT, segundo ele, está esfacelado com a crise. A estratégia do PT, diz o peemedebista, deveria incluir um acordo com o ex-governador Orestes Quércia, que já aparece em São Paulo liderando pesquisas para o governo estadual.

Para esse ex-ministro, o PT deve oferecer a Quércia a vaga de senador em disputa, que hoje é de Eduardo Suplicy, candidato forte à reeleição. A operação é complexa. Seria preciso, ainda, convencer a ex-prefeita Marta Suplicy ou o senador Aloizio Mercadante, pré-candidatos a governador, a marchar com o quercismo. "Não tem conversa com o PT. Não há a menor possibilidade de eu abrir mão da minha candidatura ao governo", diz Quércia.

Por enquanto, Berzoini também prefere não pensar nessa hipótese. "Isso a gente não pode falar agora, senão aumenta o preço. É como o cara que vai comprar um apartamento: se mostrar que quer muito, o preço aumenta muito", diz Berzoini.

Para Wagner, essa conversa também é difícil: "É óbvio que isso não é nada fácil nem houve qualquer conversa com o diretório paulista. Mas São Paulo é muito importante. E Quércia é um fator de equilíbrio no PMDB".