A visita de Estado da presidente Dilma Rousseff a Washington é moldada como mais uma oportunidade perdida nas relações bilaterais, de acordo com o presidente honorário da entidade Diálogo Interamericano, Peter Hakim. O encontro de Dilma com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seguido de jantar de gala na Casa Branca em 23 de outubro, dificilmente selará as decisões necessárias dos dois lados para aprofundar os laços entre as duas maiores economias das Américas.

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Na perspectiva dos EUA, nada poderia ser melhor do que o início da negociação de acordos de livre-comércio e de investimentos, além do contrato do Ministério da Defesa de compra dos caças F18 Super Hornet, da Boeing. As chances de esses três passos serem adotados pelo governo de Dilma, entretanto, são nulos. A gestão Obama está ciente disso e não oferecerá ao Brasil um degrau mais alto na escala internacional, como o apoio ao ingresso do País no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) como membro permanente.

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Um dos sinais da antecipada frustração da Casa Branca surgiu com a remoção do embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, para a Turquia antes da visita oficial, que será pilotada pela sucessora, Lilian Ayalde. De acordo com Hakim, se a pauta em 23 de outubro pudesse ter forte conteúdo, Shannon teria a chegada a Ancara postergada e acompanharia a presidente na capital americana.

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“A visita traz a oportunidade para Dilma Rousseff e Obama tomarem grandes decisões e de explorar caminhos que não trilhariam sem esse novo encontro”, afirmou o presidente honorário do Diálogo Interamericano. “Mas nada do que o Brasil aspira nem que os EUA desejam deve sair. Nenhum dos dois quer tomar as decisões necessárias”, completou.

Em boa medida, a declaração desta terça-feira do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota, refletiu a situação aguada da agenda entre os dois países. Kerry afirmou ser o Brasil uma das “parcerias essenciais do século 21” para os EUA e a classificou como “notável e dinâmica”. Mas, ao chamar a atenção de uma área de avanço brasileiro e de possível acordo bilateral, escolheu a de mudança do clima.

Os EUA, surpreendeu-se Hakim, nem sequer têm uma política nacional sobre mudança de clima para falar em acordo com o País nessa área. Ao elogiar o acerto anterior sobre o envio de estudantes brasileiros a universidades americanas, o secretário de Estado dos EUA estaria rebaixando o país à condição de uma “Fundação Ford”. Apesar da posição defensiva de Kerry ao ser questionado, no Palácio Itamaraty, sobre a espionagem americana em Brasília, Hakim afirmou acreditar ser o setor de segurança uma das raras áreas em que a relação pode avançar.

“Não há uma agenda real entre Brasil e EUA”, avalia. “Em 28 anos de democracia no Brasil, os dois países conseguiram desenvolver bons laços econômicos, mas nunca chegaram a firmar acordos de comércio e investimentos. Se Obama e Dilma falarem em bolsas de estudos de novo, será uma perda de tempo”, criticou. Antes do secretário de Estado, que se apresentou em Brasília com a missão de preparar a agenda da visita de Dilma, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, e o vice-presidente americano, Joe Biden, estiveram no País. Nenhum indicou haver uma real oportunidade para elevar a relação bilateral.

A presidente, entretanto, fará a única visita de Estado agendada pela Casa Branca para 2013 – uma retribuição ao mesmo padrão oferecido pelo governo brasileiro a Obama, em março de 2011. Nos cinco anos anteriores, a Casa Branca recebeu com a mesma pompa os líderes da China, Índia, México, Grã-Bretanha e França. O último presidente brasileiro a ser acolhido dessa maneira foi Fernando Henrique Cardoso, em 1995.