Jair Bolsonaro (PSL) enfrenta forte resistência no eleitorado feminino. Marina Silva (Rede) patina entre os homens. Ciro Gomes (PDT) não convence os evangélicos. Geraldo Alckmin (PSDB) não atrai os mais jovens. Fernando Haddad (PT), provável substituto de Luiz Inácio Lula da Silva, tem desempenho pífio no interior.
Além de mostrar quem lidera a corrida eleitoral, a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo expôs os segmentos do eleitorado em que os candidatos têm desempenho mais fraco que a média.
É provável que esse quadro se mantenha, em um primeiro momento: as equipes de campanha dos principais concorrentes não planejam fazer agora esforços para conquistar eleitores mais resistentes. Pelo contrário, a estratégia é reforçar os laços com eleitores de perfil mais afeito ao discurso de cada um.
Apenas um terço do eleitorado de Bolsonaro é formado por mulheres – sendo que as eleitoras são 53% do eleitorado nacional. O deputado, que costuma obter alto engajamento de seguidores nas redes sociais, também enfrenta resistências no eleitorado mais velho e menos conectado à internet.
Eliane Souza, que vive em Teresina, no Piauí, é contundente ao explicar os motivos que a levam não cogitar o candidato do PSL nas eleições. “Ele entra em polêmicas sobre racismo, mulheres, homofobia… Não acho que ele tenha condições de governar o nosso país”, afirmou.
Moradora da periferia de Salvador, a aposentada Maria José dos Santos, de 76 anos, não possui celular nem para fazer ligações e não usa aplicativos como WhatsApp ou se conecta em redes sociais. “Não sei quem é esse cara, nunca ouvi falar”, disse ela, ao ser questionada sobre a candidatura de Bolsonaro, que concentra simpatizantes no segmento mais escolarizado e de maior renda. No outro extremo, é escasso o apoio entre os mais pobres e que estudaram até a quarta série.
“Quem quiser que vote nele, eu não”, disse Maria José, surpresa ao saber que lidera as sondagens eleitorais quando o ex-presidente Lula não é incluído entre os candidatos.
Se dois terços do eleitorado de Bolsonaro é masculino, com o contingente que apoia Marina ocorre o contrário. Segundo o Ibope, somente 37% dos eleitores da candidata da Rede ao Planalto são homens. Ela também tem desempenho abaixo da média nacional entre os eleitores mais velhos, brancos, de renda alta e do interior.
“Ah, não dá, Marina tem um sério problema de confiabilidade governamental”, disse Rinaldo Gomes da Silva, de Pitangueiras, cidade na região de Ribeirão Preto, em São Paulo. Do Paraná vem mais um “não” para Marina. “Ela não me inspira confiança. Tem que ter pulso firme, tem que ter a última palavra e nos discursos ela não demonstra isso”, afirmou Paulo Juliano Choma, da cidade de Mallet.
Mulher, branca, evangélica e moradora da região Centro-Oeste, a radialista Yara Galvão, de Aparecida de Goiânia (GO), é representante de vários segmentos nos quais Ciro tem desempenho ruim. Para ela, o “histórico político” do representante do PDT “desabona o candidato”.
Lucas Morais, de 26 anos, morador de Fortaleza, considera Alckmin um candidato dos “empresários sulistas”, o que afasta qualquer possibilidade de votar no ex-governador. Morais encarna, ao mesmo tempo, dois segmentos em que o tucano tem desempenho inferior à média: nordestinos e jovens.
Na divisão das intenções de voto por gênero e por religião, porém, a distribuição dos simpatizantes de Alckmin espelha exatamente a composição do eleitorado do País.
Haddad ainda nem se apresenta como possível candidato, apesar de o PT apostar nele como “plano B” para quando Lula for declarado inelegível por problemas legais – o ex-presidente foi condenado em segunda instância na Lava Jato e está preso desde o dia 7 de abril.
Pouco conhecido no País, Haddad é ainda mais ignorado fora das capitais. “É um cara que não se destaca”, disse Gilmar Baioto, 51 anos, comerciante de Porto Belo (SC). “Não conheço o trabalho dele”, afirmou em discurso parecido ao de Rosângela Souza, de Florianópolis.
‘Convertidos’
Para o cientista político Glauco Peres, da USP, a fragmentação das candidaturas faz com que as campanhas deem prioridade a preservar o eleitorado mais convertido, evitando avançar com tanta avidez nas parcelas da população em que são mais desconhecidos ou rejeitados. “É muito custoso avançar (em outras parcelas) e ter o risco de perder o seu eleitorado. Tem sido uma estratégia conservadora nas duas lógicas: de não avançar e de não perder o seu”, disse. Segundo ele, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) é quem aplica esse artifício com mais clareza.
Segundo Peres, que vê a possibilidade de um candidato ir ao segundo turno com votação entre 15% e 20%, o tempo curto de campanha reforça essa lógica. “Se tivesse mais tempo, seria muito arriscado ficar parado. O ideal seria ir angariando mais votos aos poucos, pelas bordas.”
A diminuição de recursos financeiros, com a proibição da doação empresarial, é outro fator responsável por evitar deslocamentos que podem se mostrar inúteis. Bolsonaro, por exemplo, é de um partido nanico, que não tem uma máquina consolidada nos Estados e municípios Brasil afora. “Ele vai lá (a cidades em que não tem muitos votos) fazer o quê? Não dá para ir a furadas. É uma eleição de muito cuidado”, afirmou Peres.
Por outro lado, quem está em situação delicada é Geraldo Alckmin (PSDB). Para chegar ao segundo turno, o candidato que mais tem tempo de TV no horário eleitoral gratuito se vê obrigado a tirar votos de Bolsonaro, que tem sido uma pedra no sapato do tucano até em São Paulo, Estado que governou por quatro vezes e é o principal reduto político da legenda. “Alckmin precisa ser muito mais incisivo contra o Bolsonaro. Está perdendo voto para ele e precisa reverter isso muito rápido”, avaliou Peres.
No entanto, a estratégia de pregar para convertidos tem seus riscos. Ao avançar para o segundo turno, o candidato precisa moderar o discurso a fim de atrair os eleitores “mais difíceis”, avaliou o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP. “Existem momentos para cada coisa: o foco prioritário nesse momento do primeiro turno pode ser os eleitores ‘garantidos'”, disse Couto, lembrando que a opção de Alckmin pela gaúcha Ana Amélia (PP-RS) como vice foi certeira ao focar no Sul, onde tem grandes chances de angariar votos na campanha.
Couto vê a necessidade de Bolsonaro investir no eleitorado feminino, considerado pelo professor questão indispensável. “O desprestígio do Alckmin no Nordeste não é comparável ao desprestígio do Bolsonaro com as mulheres, que é muito ligado às posições históricas que ele já tomou, de discurso”, disse. “O candidato não pode priorizar o eleitorado mais difícil, mas também não pode abandonar esse eleitorado. O ponto é saber dosar isso, modular o discurso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.