Lucimar do Carmo/O Estado |
Hermas Brandão: ?Houve uma pressão muito grande de pessoas que se dizem democratas, mas não aceitaram o resultado da convenção?. |
O presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão, diz que não tem mágoas ou rancor do grupo que provocou a revogação da aliança do PSDB com o PMDB e o fim da sua candidatura a vice-governador na chapa encabeçada pelo governador Roberto Requião. Entretanto, não se conforma em ter vencido a convenção e perdido no ?tapetão?. Ele não usa o termo traição. Prefere dizer que alguns dos seus companheiros não tiveram uma posição decente com ele. Mas garante que não deixa a sigla. Vai permanecer para tentar retomar o comando do partido.
Mas, primeiro, quer ajudar o governador a se reeleger. ?É ponto de honra?, disse Brandão, que revelou a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no desmonte da aliança. Segundo Brandão, um eminente integrante da direção estadual – ele não diz o nome – muito próximo a FHC conseguiu convencer o ex-presidente a pressionar o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, a vetar a coligação com o PMDB.
O Estado do Paraná: Como é que começou o processo de articulação de uma aliança com o PMDB?
Hermas Brandão: Depois da eleição do Beto (prefeito de Curitiba) em 2004, nós sentamos para conversar sobre os futuros caminhos do PSDB. Analisamos a hipótese da candidatura própria e a coligação com outros partidos. Chegamos à conclusão que tínhamos que trabalhar com todas as possibilidades. Uma delas era a aliança com o PMDB. E eu fiquei de fazer essa ponte, já que tinha um relacionamento de amizade e respeito com o governador Requião.
O Estado do Paraná: Essa discussão foi feita com todo o partido ou apenas entre o seu grupo?
HB: Foi com o Beto e o Valdir Rossoni, o presidente estadual do nosso partido que, por sinal, fui eu que indiquei para o cargo. Porque, quando o Beto deixou a presidência do PSDB e foi para a prefeitura, eu era o vice-presidente e poderia ter assumido. Mas eu pensei no partido e achei melhor uma outra eleição. Pensei no Valdir porque, naquele tempo, meu relacionamento com o Alvaro (senador Alvaro Dias) era muito ruim. Hoje, essas divergências estão superadas. O Valdir tinha apoiado o Alvaro na eleição do governo, em 2002. Então, eu achei que deveria trazer um nome que conciliasse as forças, para não ter uma disputa interna. Mas depois, o Alvaro resolveu ir para o confronto. Disputou o partido e não foi bem sucedido. Nós ganhamos a eleição. Depois da convenção, nós começamos a traçar os caminhos do partido. E eu fui conversar com o governador. Tanto que o Rossoni foi comigo. Ele jantou com o governador diversas vezes. A pedido, inclusive, dele.
O Estado do Paraná: A sua indicação para candidato a vice-governador também foi um consenso?
HB: Eu não queria ser vice. Eu queria ser candidato ao Senado. Mas o Tasso Jereissati, presidente nacional do nosso partido, me fez um apelo. Disse que o Alvaro era o líder do partido no Senado e que tinha assumido um compromisso de que ele seria o candidato. Eu concordei em abrir mão com a condição de que não houvesse mais nenhuma ingerência nas decisões do partido no Estado, quanto à candidatura ou coligação. Ele garantiu que nós teríamos autonomia.
O Estado do Paraná: Como é que o senhor, um político experiente, considerado muito hábil, deixou que desfizessem a aliança com o PMDB, que o senhor construiu com muito esforço? Onde foi que o senhor errou?
HB: Onde eu errei? Eu acreditei na palavra do presidente do partido. E ele não honrou a sua palavra.
O Estado do Paraná: Mas foi somente o senador Tasso Jereissati que desmanchou a aliança?
HB: Houve uma pressão muito grande de pessoas do partido no Paraná, que se dizem democratas, mas não aceitaram o resultado da convenção. E se dizem ainda vitoriosos. Uma pessoa do diretório estadual, que eu não vou dizer o nome, fez uma ingerência muito grande junto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra a aliança. E o Fernando Henrique conseguiu convencer o Tasso Jereissati de que a aliança não deveria ser feita.
O Estado do Paraná: E o candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, concordou em romper a aliança? Ele não se interessou em manter o acordo?
HB: Tudo foi muito mal conduzido pela direção nacional. E isso não está acontecendo só aqui. E isso está criando dificuldades enormes para o Alckmin se afirmar. Porque essa postura da direção aqui no Paraná prejudicou a campanha dele. Se estivéssemos junto com o PMDB, tínhamos uma rede de trezentos e poucos prefeitos que estão apoiando o Requião que também estariam com o Alckmin. Teríamos sete dos nove deputados estaduais. Nós dissemos isso diversas vezes à coordenação do Alckmin, ao senador Sérgio Guerra. No final, o que houve foi uma falha de um partido que se diz democrata, mas que não aceitou o resultado de uma convenção.
O Estado do Paraná: O senhor se sente traído pelo presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni?
HB: Eu tenho um conceito sobre ele. Mas acho melhor que a população avalie depois de ler esta entrevista. Eu convidei o Valdir para entrar no PSDB depois que ele veio aqui na minha sala e pediu pelo amor de Deus. Ele estava no PTB e tinha brigado com o Martinez (José Carlos Martinez) e perguntou se eu poderia convidá-lo para vir para o PSDB. Eu fiz o convite publicamente e ele entrou no nosso partido. Ele estava na convenção, discursou na convenção. Ele, o Hauly e o Gustavo assinaram a ata.
O Estado do Paraná: Como o senhor avaliou a decisão do Tribunal Regional Eleitoral, ao manter a decisão da direção nacional?
HB: Prefiro não comentar.
O Estado do Paraná: Como é que o senhor vê a posição do prefeito Beto Richa, que ainda não se posicionou na sucessão estadual? O senhor acha que ele vai ficar do seu ou do outro lado, com o grupo que apóia o senador Osmar Dias (PDT)?
HB: Não posso falar por ele. Cada cidadão que tem um mandato público tem que ter sua posição.
O Estado do Paraná: Na etapa de discussão da validade ou não da aliança, o prefeito também não se posicionou publicamente. Ele é o coordenador da campanha do Alckmin no estado. Internamente, qual foi a opinião dele?
HB: Ele, como coordenador, poderia ter tomado uma posição. Poderia ter manifestado qual o melhor caminho para o Alckmin no Paraná. Se tivesse havido uma definição maior, talvez a candidatura do Alckmin não estivesse numa situação tão difícil no Paraná.
O Estado do Paraná: O apoio que o senador Osmar Dias (PDT) deu para a eleição do Beto Richa à prefeitura pode levá-lo a se decidir pela candidatura do senador ao invés de subir ao palanque do governador Requião? Ou o senhor acha que ele vai ficar neutro?
HB: Ele é que tem que responder essa pergunta. Ele teve muitas parcerias com o governo do Estado. Quanto à participação do senador na eleição à prefeitura, teve muitos companheiros do Beto que se empenharam tanto quanto o Osmar ou até mais que ele e agora estão com o Requião.
O Estado do Paraná: Quem, por exemplo?
HB: Eu. Fui eu que costurei a aliança do PSDB com o Ducci, que estava no PSB à época e que é o vice do Beto.
O Estado do Paraná: E o senador Alvaro Dias, foi seu aliado ou adversário nessa polêmica sobre a manutenção ou não da aliança?
HB: Ele achava que deveria ser respeitado o resultado da convenção.
O Estado do Paraná: Depois de tudo o que aconteceu, o senhor não deve estar se sentindo confortável no PSDB. O senhor vai deixar o PSDB?
HB: Não, ainda temos outras brigas pela frente. A próxima é a eleição do diretório estadual. Vou trabalhar para mudar a direção do partido. Já fiz um apelo para os prefeitos – dos 35, 30 estão com o Requião – para que continuem no partido. Eles queriam sair. O partido está inviabilizado. Temos que reconstruir. Nós temos hoje uma bancada de nove deputados estaduais. Com muito sacrifício, vamos eleger cinco, depois dessa situação.
O Estado do Paraná: O senhor vai disputar a presidência do partido no próximo ano?
HB: Não pretendo mais disputar eleição. Nem majoritária e nem proporcional. Mandato político está fora dos meus planos. Fui cassado pelos próximos quatro anos. Sou serventuário da Justiça há 45 anos. E agropecuarista desde 64. Vou cuidar das minhas atividades. Sou serventuário antes de ser político. Vou escolher alguém da minha confiança para ser o candidato. Alguém que não faça o mesmo que o atual presidente fez.
O Estado do Paraná: O senhor vai trabalhar pela candidatura do Alckmin? Ou está propenso a apoiar a reeleição do presidente Lula?
HB: Se eu vou ficar no partido, há mais possibilidade de apoiar o candidato do partido. Para apoiar o Lula, eu teria que sair do partido. Mas não descarto conversar com o Lula. Como presidente da Assembléia, recebo e converso com todos. Assim como vou receber a candidata ao Senado do PT.
O Estado do Paraná: O senhor perdeu no partido, mas em compensação vai assumir o governo nos próximos dias, quando o governador e o vice-governador se licenciarem para a campanha. Isso já tirou o sono de muita gente. O senhor tem vontade de dar o troco nos seus desafetos internos?
HB: Não tem essa de mágoa, rancor ou ódio. Na minha vida não tem lugar para isso. Eu apenas não entendo até agora o comportamento de alguns companheiros que você ajudou no passado e não tiveram uma posição decente. Não tenho o interesse de me vingar. Mas também não vou facilitar a vida de ninguém. Quem perdeu o sono, vai perder muito mais. Mas o que eu quero, além de reconstruir o partido, é ajudar o Requião a vencer a eleição. É ponto de honra para mim.
O Estado do Paraná: Se o governador for reeleito, provavelmente vai chamá-lo para ocupar uma secretaria ou outro cargo no governo. Já conversaram sobre isso?
HB: Não está nas minhas pretensões. Posso ajudar muito o Requião sem participar da equipe.