A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, que hoje tenta afastar ligações com Erenice Guerra, é a mesma que se empenhou pela indicação de a ex-ministra da Casa Civil para o cargo de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). A declaração foi feita hoje pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI), municiado por notícias publicadas na imprensa e pelo discurso que fez à época em protesto contra a iniciativa. Ele disse que a indicação só não progrediu porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se certificou que o nome seria rejeitado no Senado.
O senador lembrou que o apadrinhamento de Dilma para Erenice ocupar uma vaga do TCU começou logo que o ministro Marcos Vilaça se aposentou. Na entrevista que deu em fevereiro do ano passado, Heráclito questionou a escolha da servidora, secretária executiva da então ministra-chefe da Casa Civil, responsabilizada pela confecção de um suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher Ruth Cardoso. “É muita cara de pau”, disse, na ocasião.
Segundo ele, Dilma optou pela Erenice para derrubar eventuais obstáculos contra obras irregulares do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Elas (Dilma e Erenice) são carne e unha, estão ligadas por uma amizade umbilical”, afirmou Heráclito, ironizando a postura de Dilma de dizer agora, no decorrer da campanha eleitoral, que foi “traída” pela sua ex-assessora.
O senador mostrou notas publicadas na imprensa sobre a estratégia armada no Palácio do Planalto para assegurar a vaga no TCU para Erenice. Uma delas afirma que Dilma procurou o então ministro de Relações Institucionais, José Múcio, para avisá-lo que a vaga era da Erenice. Mas foi Múcio quem acabou ocupando o cargo, favorecido pela reação dos senadores, inclusive de aliados do governo.
Supremo Tribunal Militar
Heráclito disse que, ainda assim, a estratégia de favorecer Erenice continuou, como supostamente mostram informes publicados na imprensa em agosto do ano passado, sobre sua possível indicação para a vaga aberta no Superior Tribunal Militar (STM), com a aposentadoria do ministro Flávio Bierrenbach.
“Essa escolha tampouco passaria no Senado”, previu. “A única coisa a ser dita da Erenice era sua condição de assessora da inteira confiança da Dilma”, afirmou. Se fosse nomeada, Erenice Guerra ficaria no TCU até 2029, quando completasse 70 anos.
Além da estabilidade, ela receberia salário próximo de R$ 25 mil e a prerrogativa de opinar sobre todas as denúncias em obras financiadas com dinheiro público. “Já pensou o que ela (Erenice) não faria no TCU?”, questiona o parlamentar. “Era realmente muita cara de pau indicar a Erenice para o tribunal.”