Ao sabor da safra 2013 do português “Confidencial”, o deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI) investiu pelo segundo ano em uma celebração junina para colegas do parlamento, poucos hoje na esplanada dos ministérios, e recebeu “sem ser muito amigo” o ex-presidente Fernando Collor de Melo (PTC-AL). Tentando se mostrar bem-humorado com sua citação na delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, o anfitrião brincou diversas vezes que o banquete e o vinho português eram um oferecimento de Machado, apontado por alguns como “irresponsável”, “louco”, “operador do PT”.

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“Não sei onde esse cara quer chegar?”, questionavam-se alguns convidados quando a conversa era a delação de Machado, que acabou irritando “e muito” Michel Temer, segundo os que convivem com o presidente em exercício. “A festa está sendo paga pelo que sobrou da grana de Machado. Nunca foi tão bem aplicado o dinheiro do Machado”, brincou um Heráclito que se dividia entre as rodas de políticos e orgulho das filhas e dos netos.

Sempre com o charuto, Collor chegou cedo, acompanhado de sua esposa e filhas gêmeas e foi um dos últimos a deixar a festa. O ex-presidente ficou no centro de uma das rodas, a maior parte do tempo de pé entre charutos e cumprimentos. Abordado pela imprensa, disse que não falava com jornalistas há 9 anos, mas contou uma breve história de uma visita que fez a Fidel Castro logo depois de deixou a presidência.

Na sua despedida de Heráclito, Collor fez questão de dizer na frente de repórteres que prestava “absolutamente, integralmente e imensamente” sua solidariedade contra o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, desafeto público de Collor e muito criticado nas rodas de conversas da noite pelos recentes pedidos de prisão que atingiu a cúpula do PMDB. O ex-presidente chegou a xingar o procurador e disse que tinha tanta certeza de que ele era um “filho da p…” que não tinha receio de falar novamente isso na tribuna do Senado. Recentemente, Collor teve o sexto inquérito aberto no âmbito da Operação Lava Jato.

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Apesar de Collor explicitar a raiva de Janot, o nome que estava em todas as rodas de conversa do começo ao fim da festa era o de Machado. Muitos admitiram que a delação do ex-presidente da Transpetro está prejudicando o início do governo Temer e pode dificultar ainda mais. “Ele não pode colocar tudo no mesmo saco, ali tem culpados e inocentes. Os jornais colocam a foto dos políticos como se fossem todos procurados, criminosos”, disse um deputado. “Acho que ele está pagando a conta do PT, pois no partido da presidente Dilma ele só chutou cachorro morto”, afirmou outro parlamentar.

Em sua delação premiada na Lava Jato, Machado listou o nome de 20 políticos que teriam recebido propinas no esquema de corrupção na subsidiária da Petrobras e também o nome do presidente em exercício Michel Temer que, segundo o delator, teria pedido a ele doações para a campanha de Gabriel Chalita (PMDB) à Prefeitura de São Paulo em 2012. Segundo o delator, todos os políticos citados por ele “sabiam” do funcionamento do esquema de corrupção capitaneado por ele na estatal e, “embora a palavra propina não fosse dita, esses políticos sabiam, ao procurarem o depoente, não obteriam dele doação com recursos do próprio, enquanto pessoa física, nem da Transpetro, e sim de empresas que tinham relacionamento contratual com a Transpetro”.

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Além do nome de Heráclito e do agora ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que acabou deixando o cargo após as revelações de Machado, o delator citou os deputados petistas Cândido Vaccarezza, Luis Sérgio, Edson Santos e a ex-ministra Ideli Salvatti. Todos negam as acusações.

Em um dos momentos em que parou de ironizar com a citação a seu nome, o anfitrião afirmou que esta semana vai tomar providências judiciais para questionar a fala de Machado. “Vou ao Ministério Público”, disse. Heráclito lamentou ainda o fato de um projeto de lei de sua autoria, segundo o qual quem fizer delação premiada não pode alterar ou acrescentar informações após o primeiro depoimento, sob risco de perder os benefícios da colaboração, não ter sido apreciado. “Quando eu fiz o projeto da delação era justamente para punir o mentiroso”, disse.

No fim da festa, o anfitrião fez um balanço do sucesso do encontro. Disse que muitas das comidas oferecidas eram cortesia e que “não fazia ideia” do preço da festa. E avisou que pretende, nos meses de junho, dividir as atenções com a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Ambos afirmaram que o seu arraiá era uma continuação das festas o ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Jorge, pernambucano que nos últimos 30 anos reuniu políticos em festas de São João em Brasília.

De prenda nas barraquinhas que animaram as crianças e deixaram os pais falarem do “futuro do País”, a família Fortes distribuiu coelhos, pintinhos, peixes e patos. “Os pais não gostam e antes de ir embora largam os bichinhos. Amanhã, os cachorros acordam doidos e temos que fazer alguma coisa para não vir a sociedade protetora dos animais”, brincou Heráclito. De todos os bichanos entregues à nova geração o último a acabar foi o pato.