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A reunião semanal do governador Roberto Requião (PMDB) com o secretariado teve ontem a participação do jornalista Hélio Fernandes, editor e diretor do jornal carioca Tribuna da Imprensa. Fernandes defendeu a reformulação da política econômica, a começar pela auditoria nas dívidas externa e interna. "As mudanças no Brasil são dificultadas pela falta de tradição de luta do povo, que sempre aceitou a tudo, o que nos dão e o que nos tiram", disse.

Com 84 anos, Fernandes passou os últimos 50 acompanhando de perto a política brasileira e traça um paralelo entre política e economia, desde o período da independência, para ilustrar os acordos governamentais e a falta de participação do povo brasileiro nas decisões. Ele disse que "o fim da ideologia no mundo" facilitou o domínio norte-americano.

O deputado Elton Welter, líder da bancada do PT na Assembléia, foi à reunião. Welter havia dito que as críticas ao governo Lula não ficariam sem resposta do partido. Mas ao final disse que não seria necessário rebater Fernandes pela exposição que o deputado considerou "hilária, folclórica e carregada de desesperança". Para Welter, a biografia de Fernandes é de respeito, "mas não dá para levar a sério quem prega calote na dívida externa, campo de concentração para banqueiros, prisão para economistas e ainda por cima lança o Requião para presidente".

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A visão de Hélio Fernandes motivou o governador Roberto Requião a abrir a programação da TV Paraná Educativa para uma participação semanal do jornalista. A idéia é permitir que Fernandes amplie seu projeto de discussão sobre o Brasil. "É bom ver a abertura de espaços de contestação contra a idéia única", analisou o jornalista. "A alternativa para o País seria a formação de uma aliança com o povo para desafiar o poder", acrescentou.

Fernandes criticou o sistema partidário, alegando que são poucos os partidos representativos. A maioria, afirmou, é de aluguel. Para ele, muitos partidos estão distantes do povo, que está alheio a tudo e só paga imposto. Ele também defendeu uma política econômica alternativa, a exemplo do que propõe Requião. "Essa política deve questionar, entre outras coisas, a origem da dívida do País", afirmou.

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O jornalista considera a política de juros altos defendida pelo ministro Antônio Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meireles, uma catástrofe, porque impede o surgimento de um mercado interno forte, que seria, a seu ver, a alavanca do crescimento brasileiro. "A política econômica atual continua o governo FHC, que vendeu patrimônio público para dar às multinacionais".

Para o jornalista, só há uma forma de mudança se o presidente Lula ou qualquer outro adotar quatro medidas: acabar com as dívidas interna e externa, restringir a influência dos economistas, acabar com as reservas em dólares e revisar o superávit brasileiro.