Considerado um dos principais líderes tucanos da nova geração, o deputado federal paranaense Gustavo Fruet ganhou notoriedade durante a crise do “mensalão”, como sub-relator da CPMI que investigou o caso. Fruet, que é nome certo na disputa para o Senado em 2010, é visto como reserva moral na Câmara dos Deputados. Em entrevista a O Estado do Paraná, ele fala de seus planos para o ano que vem, as articulações no PSDB e comenta mais um escândalo ocorrido no parlamento brasileiro: o caso das passagens aéreas. Realista, ele cita Ulysses Guimarães: se este escândalo é ruim, o próximo pode ser pior.

continua após a publicidade

O Estado: Nomes como Ricardo Barros (PP) e Abelardo Lupion (DEM) já se lançaram candidatos ao Senado em 2010. O governador Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) estão próximos de serem confirmados. E a sua candidatura?

Gustavo Fruet: Esse debate começou cedo, tem muita variável ainda. Eu fiz um levantamento de 1982 até agora. Historicamente uma vaga do Senado é da chapa vinculada ao candidato a governador. Então, vai depender de como se formarem as coligações. Vamos especular: com um candidato único envolvendo Alvaro (Dias-PSDB), Osmar (Dias-PDT) e Beto (Richa-PSDB), as duas vagas que caírem na coligação serão candidaturas fortes. O segundo cenário é ter uma ruptura. Sai Osmar de um lado com o PT e sai uma candidatura do PSDB, Beto ou Alvaro. Aí não se sabe como vão se compor as duas chapas.

Outro cenário é a candidatura do Requião, com candidato próprio a governador do PMDB. O Requião, hoje, sai como favorito. Tem também o fato de o próximo presidente, se for do PSDB, Serra (José) ou Aécio (Neves) enfrentar oposição forte e pode ter dificuldade de maioria no senado. Então os dois trabalham com o cenário de terem candidatos nas coligações dos estados. Preferencialmente no PSDB. Até porque está em jogo a presidência do Senado. Mas são muitas variáveis, então não alimento isso ainda. Tudo o que falar agora pode mudar lá na frente.

continua após a publicidade

OE: O que o PSDB deve buscar para 2010 aqui no Paraná? Quando deve haver uma definição?

GF: Precisa o quanto antes de uma definição, para evitar o desgaste, a ruptura. O que temos que trabalhar é administrar que os espaços que estão sendo conquistados não gerem indisposição. É importante que o senador Osmar comece a discutir um plano de governo com o Estado, é bom que o Alvaro ande o Paraná e o Beto está fazendo o mesmo. Só que eu entendo também que o Beto fica em uma situação diferente. Ele não pode abrir candidatura agora. É complicado para ele. Então, vamos ficar nesse processo até o ano que vem.

continua após a publicidade

O que tem que ser evitado é que haja intriga no meio do caminho. O fato do Beto ter sido reeleito e bem, pela primeira vez no primeiro turno, mostra que está em ascensão. E o Osmar está bem. É por isso que temos que evitar intrigas. Vai dar margem a especulação. Se você construir a unidade, é uma eleição para ser vencida no primeiro turno.

OE: E na busca pela unidade, o senhor acredita que PSDB e PDT, agora, estão mais próximos ou mais distantes?

GF: É uma montanha-russa. Como tem gente que trabalha de forma mais serena e acha que não tem que antecipar isso, tem também quem ficar colocando lenha na fogueira. Vai ser assim, todo dia um pouco. A gente não define esse debate agora, não tem como.

OE: E como se desenha o quadro do PSDB para a disputa presidencial?

GF: Está havendo polarização: Dilma (Roussef PT) e Serra. A cada dia o presidente Lula deixa mais claro o apoio à Dilma. Isso faz com que se evite a possibilidade, por exemplo, de o Aécio, trocar de par,tido para disputar a eleição apoiado pelo governo. Então, o espaço do Aécio é dentro do PSDB. No caso do PSDB, vai se consolidando o fato de que o Serra tem bons cenários em todas as regiões do País e que o Aécio ainda precisa ganhar fôlego em muitos locais. O grande risco do PSDB é um sair candidato sem o apoio do outro. Porque o espaço dos dois está no PSDB, na oposição. Então, se o Aécio era incentivado com uma possível candidatura com o apoio de parte do governo, isso vai perdendo força. Hoje eu acho que a tendência é Serra e Dilma.

OE: A possibilidade de prévias no PSDB anima ou preocupa?

GF: Anima, mas a questão é que o TSE restringiu demais. A prévia, como está indo, vai ser uma convenção ampliada no início do ano que vem. E não uma prévia como se imagina uma prévia, um processo antecipado de debates, mal comparado com a eleição americana. Um dia quem sabe chegamos lá. Nos Estados Unidos, republicanos votam nas prévias dos democratas. Imagina isso aqui, um sujeito de oposição mobilizando eleitores para votar no candidato que julga mais fácil de derrotar.

A gente não tem mesmo a mesma cultura que o americano para um processo desses, então, tem que regulamentar, mas não restringir como o TSE restringiu. Não tem prévia sem debate. Se em setembro a gente fizer um debate aqui, entre Serra e Aécio para discutir questões do Paraná, será caracterizado como propaganda antecipada. Então, não tem como fazer.

OE: Que frutos pode render a aproximação do PMDB ao PSDB nacional? Como se reflete no Paraná?

GF:
Também é cedo. O PMDB hoje tem um grupo, o do Temer (Michel) e o dos deputados, com um diálogo forte com o Serra, prova foi o apoio ao Kassab (Gilberto DEM) em São Paulo no ano passado, e uma tendência a coligação para a eleição para o governo do estado, no ano que vem, lá. Mas o grupo do Sarney (José) tem uma dificuldade, hoje, de convivência com o PSDB e tendência a apoiar a Dilma. Então, é difícil imaginar, hoje qual a posição deles. O PMDB não tem unidade. Aqui no Paraná, a mesma coisa.

Como não consolidou a candidatura do Pessuti, parte do PMDB está com o Beto, outra parte com o Osmar e grande parte, ligada ao Requião, quer a candidatura dele ao Senado. O melhor cenário para viabilizar essa candidatura ao Senado, onde ela corre menos risco, hoje, seria na composição com o PSDB. Mas não tem nada ainda, é tudo especulação. E eu entendo, também, que a nível nacional, tanto a Dilma como o Serra vão querer o palanque mais amplo possível nos estados. E aqui, qual seria o palanque dos sonhos do Serra? Osmar, Alvaro, Requião e Beto.

OE: O PSDB é forte em todo Estado, ou só na capital, com a popularidade do prefeito Beto Richa?

GF: É relativo, o PSDB está num novo processo após a eleição municipal. Um processo de construção, para buscar identidade aqui. Muitos municípios têm comissões provisórias, que foram destituídas, e muitos já têm diretórios, mas que, nas eleições, o resultado foi pífio. O que acontece agora? Por que o PSDB passa a ser uma opção? Pela possibilidade de poder em nível nacional e regional, principalmente com o Beto e com o Alvaro. Esse é o motivo. E a tendência é que se acentue essa disputa pelo controle interno do PSDB, no estado e nos municípios. É um processo de construção.

OE:
Como o senhor vê o escândalo das passagens no Congresso Nacional?

GF: O que aconteceu? Entrou no mesmo balaio um fato já de conhecimento da gestão anterior da Câmara, que é a venda de passagens. O que deveria ter feito a Câmara quando soube? Imediatamente, abrir investigação. Se existe uma rede interna, no subterrâneo, identificar e punir. Se tinha, ou tem, envolvimento de deputado, enviar para a Corregedoria. A Câmara demorou para tomar atitude. Daí a atitude é tomada agora porque o Ministério Público enviou um termo à Câmara. C,omo faltou reação firme, agora três medidas foram anunciadas, mas nenhuma colocada em prática, embora uma delas possa ir, pois vai a votação na terça-feira e não tem jeito, mas é bom que vá para voto mesmo.

Agora entrou na discussão tudo, desde a questão da ilegalidade, dos abusos e do uso em território nacional. Um quadro desse, vira um pêndulo. O pêndulo dava a liberdade, da liberdade, viu-se a ilegalidade. Agora o pêndulo tem que ir para o outro lado. Não tem jeito, tem que restringir. Paga-se um preço por isso, mas é o preço que a Câmara tem que pagar para conseguir superar mais essa crise, senão, não vai ter fim.

OE: Cota de passagens, auxílio moradia, verba de ressarcimento, por que o parlamentar, que já recebe um bom salário, tem tantos privilégios?

GF: Porque política misturou tudo com privilégio. No caso da verba indenizatória, por exemplo, o que aconteceu? Ela serve para complementar salário ou para a estrutura do parlamentar? No primeiro caso, mostrou Edmar Moreira (DEM), que não conseguiu provar o trabalho de seguranças que emitiu nota. Aí está um caso de ilegalidade. No segundo, é a utilização da verba, um questionamento permanente sobre custo. Mesmo partindo do pressuposto que todo mundo usa de forma legal, sem discutir se é justo ou não.

Por que o deputado A gasta mais em gasolina que o deputado B? Esse questionamento vai se perpetuar, até a hora que se tenha clareza quanto à utilização e o custo do mandato. Mas a questão é que tudo virou privilégio. Soma-se tudo como se fosse uma estrutura em dinheiro que é repassada ao deputado: verba de gabinete, verba indenizatória, auxílio moradia, cota mensal de correio e o salário. Então, num quadro de crise, por mais que se mostre que são questões distintas, agride.

OE: Qual o caminho para moralizar o Congresso?

GF: A política é disputa de poder. O que tem de melhor e de pior está na política. Nunca haverá um colegiado perfeito. Mas o que acontece é que de tempos em tempos, certas ideias ou certas lideranças têm a capacidade de dar esse passo. Mas a gente não está conseguindo isso nesse momento no Brasil. O mundo político está patinando ao invés de dar uma resposta. Esse questionamento vai se aprofundar e vai fazer vítimas no meio desse processo.

Mas isso pode levar tempos até estabilizar, pois ainda há um espaço entre essa indignação e o resultado das forças eleitorais. Eu resumo tudo isso com uma frase do Ulysses Guimarães: “Não se preocupe, se você acha que está ruim, o próximo vai ser pior”.