Dois dias após ser confirmado como o candidato da terceira via à presidência da Câmara Federal, o deputado paranaense Gustavo Fruet (PSDB) é puro entusiasmo. Lançado candidato sem mesmo ter o apoio integral de seu partido, Fruet já fala em disputar o segundo turno.
Em entrevista ao portal Congresso em Foco, Gustavo Fruet disse que o lançamento da sua candidatura à presidência da Câmara provocou uma revolução em sua vida. O deputado demonstrou confiança em conseguir uma boa articulação com a bancada da oposição que, segundo ele, seria suficiente para lhe colocar no segundo turno da disputa com Aldo Rebelo (PcdoB) e Arlindo Chinaglia (PT).
Uma das razões para esse otimismo é a sinalização de que a bancada do PSDB dará apoio em bloco a sua candidatura (a decisão sairá da reunião de terça-feira). Garantida a adesão total dos 66 deputados de seu partido, Fruet parte para uma articulação com o PFL. ?Se houver a possibilidade de se chegar a uma candidatura com 120 ou 130 votos, é segundo turno?, calcula, lembrando que já tem o apoio do PPS e do PV.
O candidato disse, na entrevista, estar tomando extremo cuidado nas conversas com o PFL para não gerar constrangimento pelo fato de o partido já ter declarado apoio ao atual presidente da casa, Aldo Rebelo, antes de surgir a ?terceira via?. No entanto, ele pediu ao líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), que não haja veto nem sanção aos pefelista que aderirem à sua campanha. Seu primeiro alvo são os paranaenses do partido, como Abelardo Lupion, Eduardo Sciarra, Alceni Guerra e Cassio Taniguchi.
Gustavo Fruet reconheceu que luta contra o tempo (seus adversários estão em campanha desde o ano passado) e contra dois fortes adversários, mas que representam uma divisão. ?Minha candidatura se coloca contra duas estruturas fortes e minha eleição, se acontecer, não terá nenhum consenso. As estruturas são o governo e a Câmara dos Deputados. Não estou aqui falando em fisiologismo, mas de política. Mas dentro do governo é quase uma disputa autofágica. O Aldo pagou pela lealdade ao governo e ainda deverá ser cobrado se a eleição for para o segundo turno?, comentou.
Nessa luta contra o tempo, o deputado disse já ter conversado pessoalmente com 50 colegas nesses dois últimos dias. ?Falei com o José Múcio, do PTB, que está dando apoio ao Chinaglia, com Mário Negromonte (PP) e com o Luciano Castro (PL). Mas não pedi mudança de posição. Até porque entendo que não se ganha nada com o apoio de líderes. E se existe uma chance agora, não são eles que vão mudar de posição por pressão. Aposto na conversa com os deputados desses partidos que estão na expectativa da mudança de um novo comportamento da Câmara, além de evitar ficar na dependência de acordos partidários?, comentou, acrescentando que disse entender e respeitar a posição do PSOL de não apoiá-lo por questões ideológicas, apesar de terem atuados juntos na CPMI.
Apesar de confiante em poder equilibrar as disputas, Fruet disse ainda não ter definida uma mesa-diretora. ?No nosso caso, não foi estabelecida uma chapa. Eu já conversei com a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), justamente para se pensar numa alternativa. A Câmara viveu um momento muito desgastante que não permite que os métodos tradicionais sejam usados nesse processo de reestruturação. A questão também é regimental. Primeiro, elege-se o presidente. Depois, pensamos nos demais cargos.?
PSB sugere troca de apoio com o PSDB
Foto: João de Noronha/O Estado |
Alvaro Dias: senador paranaense diz que Gustavo Fruet atende às aspirações da sociedade brasileira. |
Articuladores das campanhas de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) à presidência da Câmara já discutem a possibilidade de uma troca de apoios, num eventual segundo turno, contra o petista Arlindo Chinaglia (SP). Lideranças do PSB procuraram Fruet ontem com o propósito de construir uma aliança estratégica para o dia da eleição.
?Nós estamos na campanha por Aldo Rebelo, mas sugerimos abrir conversações sobre o segundo turno. Matematicamente, o segundo turno já está sacramentado. Nós não avançamos no conteúdo, mas temos de iniciar o diálogo?, contou o deputado eleito Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), um dos escalados para a tarefa de definir as pontes com o candidato tucano.
A entrada de Fruet na briga pela presidência da Casa, com o apoio do PSDB, mudou o cenário da disputa. Pelas contas dos parlamentares, nem Chinaglia nem Aldo terão votos suficientes para vencer no primeiro turno. São necessários 257 votos (maioria absoluta) para a eleição do presidente. As conversas sobre uma aliança contra o PT ainda estão na fase inicial. O objetivo é garantir que o candidato eliminado no primeiro turno apoiará o adversário de Chinagla no segundo. Outros políticos do PSB também telefonaram para Fruet.
Ética
Líder da Oposição, senador Alvaro Dias (PSDB) disse ontem que, após as denúncias de corrupção que contaminaram a última legislatura do Congresso, é fundamental que seja lançada uma candidatura ética, para ajudar na recuperação da credibilidade do Poder Legislativo. ?A proposta do deputado Gustavo Fruet para valorizar a Câmara, sobretudo devolvendo a ética e a credibilidade perdidas, atende exatamente às aspirações da sociedade brasileira?, declarou.
Alvaro destaca que entre os principais pontos defendidos por Gustavo Fruet estão a transparência de gastos dos deputados, a reforma política, o voto aberto, o aumento do poder de fiscalização da Câmara, além da criação de um mecanismo de correção salarial dos parlamentares que impeça reajustes exorbitantes, como o de 91% anunciado no fim do ano passado e cancelado diante das reações negativas da sociedade.
Segundo o senador, que é um dos vice-presidentes do Diretório Nacional do PSDB, o partido só tem a ganhar ao conceder apoio integral a Gustavo Fruet como candidato da terceira via. ?Com esse apoio, o PSDB vai marcar posição contra a mesmice e andar na mesma direção da opinião pública. O deputado Gustavo Fruet não tem a obrigação de vencer; o mais importante é a defesa de teses para moralizar a instituição pública?, afirmou.