Uma disputa pelos rumos da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) provocou divisão no comando da campanha do candidato – líder nas pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos dias, as diferenças ficaram explícitas em temas como o comparecimento do candidato a debates e a escolha do vice da chapa presidencial.
Um dos grupos é formado por antigos seguidores de Bolsonaro e reúne seus filhos e assessores egressos das Forças Armadas. O outro tem políticos do PSL, legenda à qual o parlamentar se filiou em março deste ano.
O grupo formado pelos irmãos Eduardo Bolsonaro (deputado federal por São Paulo), Flávio (estadual no Rio) e Carlos (vereador na capital fluminense) tenta evitar que o presidenciável adote recomendações do presidente do PSL, Gustavo Bebianno, e do vice, Julian Lemos.
Em geral, quando os dois tomam alguma decisão, enfrentam oposição e críticas do trio, que tenta influenciar o pai. Frequentemente, Bolsonaro adota posição intermediária ou muda de rumo seguidas vezes, com decisões ou declarações contraditórias.
A divergência mais recente ocorreu na quinta-feira, quando Bebianno anunciou que Bolsonaro não participaria mais de debates nos meios de comunicação, durante agenda no interior de São Paulo. Minutos depois, o candidato disse que não faltaria aos confrontos já agendados.
Carlos, que não estava na atividade de campanha, postou mensagem numa rede social: “Bolsonaro tem ido a palestras, entrevistas, sabatinas e debates desde o início, e desde o mesmo início de sempre (sic), os mesmos bandidos inventam a narrativa de que ele não iria.”
A divisão já tinha marcado o processo de escolha do candidato a vice-presidente da chapa. Foi a dupla de dirigentes partidários que conduziu as conversas com a professora Janaina Paschoal e com o senador Magno Malta (PR-ES). Após as negativas de ambos, Julian, via Instagram, começou a trabalhar o nome de Luiz Philippe de Orleans e Bragança – da família real brasileira -, apresentando-o como possível vice.
A atitude irritou o grupo dos filhos de Bolsonaro. Eles reagiram pelas redes sociais com declarações ásperas. “Determinados assuntos têm que ser resolvidos internamente e divulgados apenas quando há certeza”, comentou Eduardo no Instagram de Julian no mês passado. “Mas a vontade de aparecer fala mais alto e muitos tentam ser o pai da criança. Conselho: faça as coisas por satisfação própria e será recompensado, buscar holofote só atrapalha.”
Eduardo também publicou na página de Julian: “há um ditado que diz: quem avisa amigo é. Talvez vocês estejam blindados e não esteja chegando a vocês uma reclamação que eu tenho escutado e muito (…) toda vez que um desses possíveis vices não fecha, o Jair Bolsonaro recebe um desgaste. Tenham mais responsabilidades dos cargos (sic) que ocupam, sejam mais profissionais, mais responsáveis e menos preocupados com a autopromoção.”
Já Carlos publicou, em seu perfil no Twitter, uma mensagem que seria direcionada à dupla: “Tem muito vagabundo que chegou ontem e acha que está enganando alguém como guias de Jair Bolsonaro”, provocou.
Para ficar mais perto do pai na campanha, o vereador, no dia 14, pediu licença não remunerada de 30 dias na Câmara Municipal do Rio.
O presidenciável teria uma posição apaziguadora em relação a Bebianno porque ele é também seu advogado no processo a que o deputado responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e incitação ao crime. Bolsonaro virou réu após declarar que “não estupraria” a deputada Maria do Rosário (PT-RS) “porque ela não merecia”.
No embate interno da campanha, um dos aliados dos filhos de Bolsonaro é o fundador e presidente de honra do PSL, Luciano Bivar.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele trabalha para afastar os atuais dirigentes do partido dos postos que ocupam. Integrantes da campanha defendem que a medida só seja tomada após as eleições, para não criar desgaste.
Procurado pela reportagem para comentar as divergências, Bebianno disse que há “atrito zero” na campanha e classificou a notícia de “fake news”.
Segundo ele, “toda a família de quatro ou cinco pessoas, de vez em quando, tem um desentendimento aqui, outro ali”. “Às vezes, um quer feijão preto, outro, marrom. É besteira, isso faz parte da convivência.”
Um assessor de Flávio Bolsonaro afirmou que o parlamentar não comentaria o caso. Carlos e Eduardo Bolsonaro não responderam.
Julian Lemos disse que não daria entrevista. Luciano Bivar foi procurado por telefone e por meio da assessoria de imprensa do partido, mas não houve resposta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.