Assim como ocorre na Assembléia Legislativa, onde as divergências afloram a cada semana na bancada aliada, o primeiro escalão do governo do Estado também está dividido em grupos que disputam os espaços de poder, expondo fissuras e conflitos que estão marcando o terceiro mandato do governador Roberto Requião (PMDB).
As desavenças mais visíveis envolvem o ex-procurador-geral do Estado Sérgio Botto de Lacerda, atual presidente do Conselho de Administração do ParanaPrevidência, o fundo de aposentadorias e pensões dos servidores públicos estaduais. Botto de Lacerda deixou a Procuradoria Geral do Estado no início do ano, dizendo-se vítima do chamado ?fogo amigo? do núcleo formado pela família Delazari, o pai e corregedor-geral do Estado, Luiz Carlos, e o filho e secretário estadual de Segurança, Luiz Fernando.
O governador se divide entre as duas alas. O secretário de Segurança é o ?menino dos olhos? do governador. Já Botto é considerado o seu mais eficiente ?operador?. Mesmo distante do governo, quando deixou a Procuradoria Geral, Botto de Lacerda recebia telefonemas diários de Requião, consultando-o sobre vários assuntos do governo. O resultado foi que, depois da briga com os Delazari, Botto voltou para uma posição estratégica no ParanaPrevidência.
Numa outra ponta está o núcleo do secretário de Educação, Maurício Requião, formado pelo secretário do Meio Ambiente, Raska Rodrigues, o secretário de Saúde, Claudio Xavier, e o presidente do Conselho de Administração da Sanepar, Pedro Henrique Xavier. Maurício é amigo do irmão de Xavier, o empreiteiro Maurício Xavier, apontado como peça-chave na campanha do segundo mandato do governador. O secretário de Obras, Julio Araújo, é descrito por setores do governo como integrante deste grupo. Seu diretor técnico na Secretaria é o genro do secretário de Saúde, Cornelius Unruh.
O outro irmão do governador, Eduardo, tem seu próprio time. Mas comanda seu grupo à distância das intrigas pelo poder, em Curitiba. Sua preocupação maior é defender-se dos ataques que vêm principalmente da bancada de oposição ao governo e dos deputados federais.
Em casa
Gravita ainda em torno do governador a chamada ?turma da orelha?, como é batizada nas conversas informais, ou o ?pessoal da casa?, como se referem alguns deputados. Nele estão o secretário de Comunicação, Airton Pisseti, e o assessor especial Luiz Mussi. Os apelidos dados pelos colegas de governo revelam que ambos tentam ser ?conselheiros? de Requião.
Pisseti e Mussi são considerados integrantes da ?quota pessoal? de Requião. Os dois não são grandes amigos. No mandato anterior, Mussi acusou Pisseti de cobrar comissão para liberar verbas de comunicação. Apesar das pressões, Requião manteve os dois a seu lado. Pisseti é considerado amigo dos tempos difíceis do governador, quando ele venceu a eleição de 2002, contra todos os prognósticos. Pisseti atuou no marketing e na atração de fundos para a campanha. Mussi foi apresentado a Requião pelo ex-governador Paulo Pimentel e também ajudou na área financeira da campanha.
O primeiro escalão tem um braço na Assembléia Legislativa. O deputado estadual Alexandre Curi é visto como o ?enfant gaté? do governador. O líder do governo na Assembléia é o deputado Luiz Claudio Romanelli, companheiro antigo de Requião. Mas Romanelli e Requião nem sempre concordam. E Alexandre acaba sendo o mais fiel interlocutor do governador.