As propostas dos dois candidatos a prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN) e Ney Leprevost (PSD), para o combate, prevenção às drogas e tratamento de dependentes químicos são praticamente idênticas.
Em resumo, os dois pretendem colocar a Guarda Municipal, em parceria com as polícias estaduais, para combater pequenos traficantes na capital, investindo no sistema de monitoramento. Além disso, prometem ampliar a rede de apoio, com mais participação de comunidades terapêuticas religiosas e aumento do número de atendimentos nos centros de atenção psicossocial (Caps).
O problema é que essas ideias conflitam com o que tem sido debatido nacionalmente. Segundo o diretor do Departamento de Política Sobre Drogas do Município, Marcelo Kimati, a política nacional sobre drogas tem incentivado que se invista em programas que ofereçam mais alternativas que o tratamento e a repressão.
“Existe uma clareza no mundo inteiro que política sobre drogas não pode ficar restrita à pedagogia do medo ou ao tratamento dessa maneira que é proposta”, explicou. Kimati citou como exemplos programas incentivados pelo escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC): Jogo Elos e #Tamo junto. Esses projetos tentam focar no desenvolvimento da capacidade de diálogo, da resolução de conflitos.
De acordo com ele, no caso de comunidades terapêuticas, não há evidências de que o tratamento seja efetivo e duradouro. Elas ainda atendem uma pequena fatia da população. “[Os tratamentos das comunidades] são considerados barreiras de acesso. Hoje o município tem convênio com oito comunidades que não chegam a ter 200 leitos, mas o número de dependentes de álcool e outras drogas na capital passa dos 150 mil”, ressaltou, ao mencionar que essas comunidades trabalham com abstenção e absoluto rigor, criando uma rejeição grande nos dependentes para começarem o tratamento.
Kimati explicou que as parcerias com as polícias para trabalhar na área de prevenção podem ser classificadas como pedagogia do medo. Esse tipo de programa tem sido deixado de lado no país por não levar em conta o fato de os consumidores de drogas começarem o vício por vínculos de amizade e sociabilidade.