Preocupados com o impacto do relatório final da CPMI dos Correios na campanha eleitoral deste ano, os parlamentares petistas e aliados do governo já começam a negociar no Congresso para evitar que o texto apresentado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) danifique ainda mais a já arranhada imagem do PT e do governo. A palavra de ordem veio do Palácio do Planalto e já é repetida por petistas no Senado e na própria CPMI: o limite é Lula.
Se o PT ditou até onde o relatório pode ir, a negociação deu à oposição a garantia de que a CPMI não deve insistir na apuração da suposta lista de tucanos e aliados do governo Fernando Henrique Cardoso que teriam sido beneficiados por um esquema de financiamento organizado pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo.
Os tucanos, porém, de acordo com os integrantes das negociações, já aceitaram que será incluído no relatório final da comissão a conclusão de que o valerioduto também abasteceu a campanha ao governo do estado, em 1998, do senador Eduardo Azeredo (MG), ex-presidente do partido. "Nada do que existe vai estar fora do relatório", explicou um dirigente do PSDB.
A negociação ganhou força esta semana depois que Serraglio, numa entrevista à revista Veja, considerada pelos governistas como precipitada, classificou o presidente Lula como negligente e disse que incluiria o nome dele no relatório final da CPMI. Lula já conversou com líderes da base governista no Congresso e com o próprio presidente da CPMI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), sobre o relatório da comissão e deixou claro que não vai tolerar exageros.
Com o objetivo de evitar que a CPMI acabe numa grande briga política entre governistas, tucanos e pefelistas, Delcídio tem conversado com líderes de todos os partidos na tentativa de costurar um acordo que permita a aprovação do relatório do deputado Serraglio. Na oposição, ele já teve conversas com os presidentes do PSDB e do PFL, senadores Tasso Jereissati (CE) e Jorge Bornhausen (SC), e com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Na bancada governista, Delcídio tem trocado idéias com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, e com o deputado Henrique Fontana (PT-RS), líder do partido na Câmara. "Não pode haver precipitações e tudo tem de ser decidido em plenário. O limite é o presidente Lula", afirma o deputado petista Maurício Rands (PE), relator-adjunto da CPMI.
"O limite da CPI dos Correios é a responsabilidade. Como um relator pode anunciar de forma antecipada algo que ainda não está no relatório? Ele deveria se declarar suspeito. Não vamos aceitar qualquer tipo de ilação, principalmente em relação ao presidente Lula. A CPMI tem que investigar e apresentar os resultados da apuração. Acho que a comissão deve ter o tempo que precisar para ter uma conclusão consistente", explica o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.
O líder do governo no Senado citou como exemplo de um possível entendimento o que está sendo feito na CPI dos Bingos, outra trincheira da oposição ao governo. Segundo Aloizio Mercadante, o relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), aceitou 16 destaques ao seu relatório sobre o caso Gtech feitos pela bancada governista. "Não queremos poupar ninguém. Mas não vamos aceitar perseguição. Nós queremos um relatório imparcial", resume Mercadante.
As investigações em relação ao publicitário Duda Mendonça, apesar da viagem que a CPMI pretende fazer aos Estados Unidos para investigar mais contas bancárias que ele supostamente manteria em paraísos fiscais, também devem ficar restritas ao que a comissão já apurou. Integrantes da bancada governista até admitem uma nova convocação do publicitário responsável pela campanha eleitoral do presidente Lula em 2002, mas dizem que um novo depoimento pode causar mais estragos na oposição do que no governo. "O potencial de estrago no governo já foi. A partir de agora, o prejuízo pode ser da oposição", ironiza um petista.
Na base governista, já circula até uma lista dos políticos para quem Duda Mendonça trabalhou e que poderiam ser afetados por um depoimento magoado do publicitário. O levantamento é extenso e, além de Azeredo, inclui tucanos como o senador Antero Paes de Barros (MT) e o deputado estadual fluminense Luiz Paulo Corrêa da Rocha, os peemedebistas Joaquim Roriz (DF), Garilbaldi Alves (RN) e Ney Suassuna (PB), e também os ex-governadores Antônio Brito e Miguel Arraes e o ex-prefeito Paulo Maluf.
O relatório de Serraglio, entretanto, não deve deixar perguntas sem resposta. A idéia é que o documento contenha indicações de todas as diligências feitas pela CPMI, mesmo quando elas não resultaram em provas relevantes, como pode ocorrer no caso do publicitário Duda Mendonça.