Para amenizar as críticas da comunidade artística em relação à incorporação das atividades da Cultura ao Ministério da Educação, o governo anunciou que pretende recuperar a defasagem no orçamento e até ampliá-lo para o exercício de 2017. As medidas foram anunciadas pelo ministro Mendonça Filho e pelo recém anunciado Secretário Nacional de Cultura, Marcelo Calero, que assume na próxima segunda-feira, 23.

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Sob um discurso de que a fusão será benéfica aos artistas e produtores culturais, os dois disseram que estão abertos ao diálogo para minimizar o impacto das manifestações contrárias à extinção do Ministério da Cultura (MinC), que nos últimos dias têm acontecido em todo o País. “Apesar de alguns verem como algo negativo, insisto que a conjugação das pastas fortalecerá a política cultural. A educação pode facilitar e ampliar as oportunidades de fomento cultural”, disse Mendonça, afirmando que irá estabelecer parcerias com escolas de toda a rede pública.

Mendonça e Calero estiveram reunidos com o presidente em exercício, Michel Temer, na tarde desta quarta-feira, 18. O ministro afirmou que “está fora de hipótese” a recriação do MinC, “com todo respeito” às sugestões do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tentou convencer Temer de abdicar da fusão.

O ministro afirmou que, de 2015 para 2016, o orçamento para a cultura encolheu em 25% e há um acúmulo de restos a pagar na ordem de 1,5 bilhão. Para ele, essa é uma prova de que, isolado, o MinC “não tem obtido o sucesso desejado por quem faz cultura no Brasil.”

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Uma das primeiras iniciativas da Secretaria será, de acordo com Calero, quitar dívidas com prestadores de serviços e com artistas e produtores que celebraram contratos com o MinC por meio de editais. Ele relatou que, da reunião com Temer, ficou acertado que a dívida de cerca de R$ 235 milhões será paga em quatro parcelas. “Temos de restabelecer a dignidade dos fazedores de Cultura”, disse.

Mendonça afirmou que “não há necessidade de um ministério específico para se promover a cultura”, pois “não é a palavra ‘ministério’ que vai fazer diferença”. Disse, ainda, que há experiências de fusão bem sucedidas em outros países, que juntaram a pasta com Comunicações ou Turismo, por exemplo. Para ele, quando se discute cultura, “não há partido político ou oposição, pois os esforços são comuns.”

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Calero utilizou sua formação como diplomata como o principal atributo para promover “a concórdia”. Afirmou, também, que um dos seus objetivos é valorizar os servidores de carreira e também minimizou possíveis desvantagens da fusão dos ministérios. “Muitas vezes, não conseguimos identificar a fronteira entre uma coisa e outra”, disse. Mendonça complementou que bibliotecas e grupos de teatro em escolas podem ser considerados instrumentos tanto de educação quanto de cultura.

Sobre a Lei Rouanet, Calero disse que há “distorções a serem corrigidas”, mas que não se pode “satanizar o principal instrumento de financiamento de cultura”. Mendonça reiterou que “está aberto a debates” para rever pontos da lei, caso a comunidade artística não esteja satisfeita.

Para Calero, os atos em favor do MinC têm “absoluta legitimidade” e são “sinal claro da democracia”. Não considera que tais manifestantes constituam uma “barreira” à sua gestão. “Mas vamos dialogar com quem quiser dialogar conosco”, avisou. “A mobilização é importante pois gera compromissos por parte do poder público”. Ele elogiou, por exemplo, a ocupação do Palácio Capanema, no Rio: “Era um lugar asséptico e hoje está vivo.”

Calero foi escolhido para o cargo depois de pelo menos quatro mulheres negarem assumir o posto. Mendonça disse que vários altos cargos do MEC, como a secretaria-executiva e a chefia do gabinete, são ocupados por mulheres e que as orientações de Temer “são camisa de força para obrigar a colocar mulheres em todas as atividades relevantes” da pasta. “Estamos buscando gente competente, apenas”, disse o ministro.