O governo tentará convencer o senador Paulo Paim (PT-RS) a desistir da campanha contra a proposta que reajusta o salário mínimo para 545 reais. A administração federal não teme apenas que a posição de Paim influencie outros senadores da base aliada nessa votação. A maior preocupação é que ele, único dissidente da bancada do PT, queira tirar proveito do debate sobre o salário para também tentar acabar com o fator previdenciário, que condiciona a aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) à idade do trabalhador.
Ao contrário dos que rejeitam a fixação de uma idade limite para aposentadoria pelo Regime Geral da Previdência, Paim alega que isso é feito pelo mecanismo do fator e “de forma injusta e cruel”. “Quem ganha R$ 3,5 mil só pode se aposentar com R$ 1,8 ou R$ 2 mil, no máximo, devido ao fator previdenciário”, critica. O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, manifestou-se favoravelmente ao fim do fator, mas reconhece que, dificilmente, o assunto será tratado este ano.
Depois da vitória expressiva obtida na Câmara dos Deputados, o Poder Executivo quer evitar que a discussão no Senado Federal sobre o mínimo se transforme num conflito. Na prática, o Executivo sabe que, se alguma alteração for feita pelos senadores, o projeto terá de ser rediscutido. A Presidência da República quer, além do mais, encerrar, definitivamente, essa discussão.
Embora tenha sido aprovada por larga margem de votos, a proposta da remuneração mínima do trabalhador abriu várias frentes de atrito entre a Presidência e a base aliada. O PDT viu, por exemplo, o cargo do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ser posto em risco, uma vez que o partido comandou a maior parte da dissidência na Câmara. Além disso, a União precisou desgastar-se na relação com as centrais sindicais, que defendiam um valor maior de aumento. Para conter essa pressão, foi escalado como relator o deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ligado diretamente ao movimento sindical.