Mesmo que a “guerra” pela defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff já tenha sido considerada pelo próprio governo como perdida, a ordem dada por Dilma é de resistir. Ela mesmo, na série de agendas que fez nos últimos dias, tem dito que vai lutar até o fim. A estratégia que está sendo montada passa principalmente pelas mãos do advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, a quem caberá os recursos com os quais o governo deve entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular o processo de impeachment que foi conduzido pelo agora presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Embora as ações de Cardozo não estejam surtindo efeito positivo, o advogado-geral deve continuar insistindo juridicamente com todos os recursos possíveis. Um deles, que estaria engavetado como uma “tacada arriscada” é o de questionar no STF se as pedaladas fiscais, que Dilma é acusada de ter cometido e que embasam o pedido de impeachment, podem ou não ser consideradas crime de responsabilidade. A estratégia é considerada perigosa, pois em caso de a Corte ratificar o crime toda a narrativa que tem sido usada por Dilma seria desmontada.
Além de Cardozo, os ministros mais próximos de Dilma também devem integrar o “exército” da presidente. Após a aprovação do relatório pela admissibilidade do impeachment pela comissão especial do Senado nesta sexta-feira, 6, o ministro do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Jaques Wagner, reconheceu que o governo não tem muitas esperanças de conseguir reverter o resultado do plenário do Senado, que deve aprovar o afastamento de Dilma. Para ele, entretanto, no período de até 180 dias que Dilma ficará fora da presidência, há condições para o cenário ser revertido. “Vamos continuar trabalhando para provar a inocência da presidente Dilma. Temos certeza de que com mais tempo para a defesa no Senado a inocência ficará evidente”, disse o ministro.
Wagner afirmou que o processo conduzido pelo agora presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, foi “manipulado” e continha “vícios”. “Vamos mostrar a manipulação que houve em todo processo na Câmara”, afirmou. “Vamos também agir junto ao Supremo mostrando que o processo chegou viciado ao Senado.”
Ao ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, caberá a função de mapear a eventual disposição do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) em acatar um recurso da AGU que pede o cancelamento da sessão do impeachment presidida por Cunha. Segundo deputados petistas, o ministro ainda não iniciou esse trabalho de aproximação, justamente, porque o substituto de Cunha é “uma incógnita” e há dúvidas de que haja tempo hábil para criar uma relação de confiança e mais proximidade com o deputado.
Maranhão, que é próximo de Cunha e inclusive esteve com ele nesta sexta-feira, votou contra o impeachment da Dilma. “Tudo que ele queria era ser alguém discreto e de uma hora pra outra todos os holofotes estão nele. É impossível saber como ele reagirá”, afirmou um parlamentar petista.