Governo do RJ desconhece nº de contratos com a Delta

O secretário da Casa Civil do Rio, Régis Fichtner, reconheceu nesta quinta não saber quantos são os contratos celebrados entre o Estado e a Delta Construções, acusada de envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e investigada pela Polícia Federal. “Devem ser muitos”, afirmou Fichtner, que preside a comissão que vai examinar as licitações que resultaram na contratação da empreiteira, beneficiada, só no Rio de Janeiro, com obras avaliadas em R$ 1,49 bilhão desde o início do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB). Um decreto de Cabral, publicado nesta quinta no Diário Oficial, incluiu a empresa como objeto de investigação de uma comissão criada há semanas para apurar relações da administração pública com fornecedores flagrados pelo programa Fantástico em gravações , combinando superfaturamento, no hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Não vamos fazer auditoria em cada contrato (com a Delta)”, explicou Fichtner. “Vamos ver se há algum indício de irregularidade e, onde houver, vamos aprofundar (a investigação).” O secretário afirmou não saber se a Delta é a empresa com mais contratos com o Rio e reconheceu que a Auditoria-Geral do Estado já está com seus técnicos empenhados nas investigações das denúncias contra as empresas que atuavam na UFRJ e mantêm contratos com o Estado, o que pode sobrecarregar ainda mais a equipe. Além de Fichtner, formam a comissão o subprocurador-geral do Estado, Leonardo Espíndola; o subsecretário-geral de Planejamento e Gestão, Francisco Caldas; e o auditor-geral do Estado, Eugênio Machado. A comissão não tem prazo para encerrar seu trabalho.

Fichtner explicou que, primeiro, notificará a Delta para que se manifeste sobre a gravação exibida no Jornal Nacional, da Rede Globo, na qual seu controlador, Fernando Cavendish, falou em compra de políticos. Depois, os processos licitatórios que resultaram na contratação da empreiteira pelo Estado serão examinados pela comissão, com apoio dos auditores do Estado. Por fim, se forem encontradas irregularidades, a Delta poderá ter sua inidoneidade declarada pelo Estado, e serão abertas sindicâncias para apurar as irregularidades. “Uma das posições (do governo) poderá ser impedir, desde já, contratações futuras da Delta pelo Estado”, declarou. Segundo o secretário, o tempo das apurações dependerá do número de contratos a ser examinado.

Para Fichtner, não há “nenhum” constrangimento em investigar uma empresa como a Delta, controlada por um amigo de Cabral – a amizade do governador com Cavendish é pública no Rio de Janeiro. Em junho de 201, o governador estava na Bahia para o aniversário do empresário, quando um acidente de helicóptero matou sete pessoas, inclusive a mulher de Cavendish, Jordana. “A investigação foi uma determinação do governador”, disse. “A administração do Estado não tem nada a ver com as relações pessoais de A, B ou C. Se houver algum problema, as providências serão tomadas, independentemente de quem quer que seja.”

Cesar Maia

O ex-prefeito Cesar Maia (DEM) afirmou nesta quinta que a Delta entrou nas licitações durante seu governo (oito anos anteriores à atual gestão, de Eduardo Paes, do PMDB) oferecendo preços que os concorrentes consideravam inviáveis, por serem muito abaixo do mercado. “Mas sempre entregou as obras a tempo e com o preço contratado”, afirmou. Levantamento feito pela assessoria da vereadora Andreia Gouvêa Vieira (PSDB) apurou que, de 2002 a 2008, a prefeitura carioca contratou, em valores nominais, R$ 331.059.602,42 em obras e serviços da Delta. De 2009 a 2011, já na gestão Paes, a empreiteira ganhou contratos avaliados (cifras não atualizadas pela inflação) em R$ 325.534.422,51.

“Segundo o mercado (os preços oferecidos pela Delta) estavam abaixo (do que seria viável comercialmente)”, afirmou Maia. “Mas quem ganhava com isso era a cidade que tinha mais dinheiro para investir.”

O ex-prefeito afirmou que não conhece, nem nunca conversou, com Cavendish, e lembrou um problema em que a Delta se envolveu, durante seu governo. “Houve a um conflito com a empresa no Engenhão, onde teve que ceder uma parte da cobertura a OAS e Odebretch por questionamento técnico. Ela reagiu e saiu reclamando, mas a questão era de uma tecnologia que não dominava segundo os técnicos”, afirmou.

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