Vence amanhã a primeira parcela de R$ 3,2 milhões que a Ferropar (Ferrovia Paraná S/A) terá que pagar ao governo do Estado desde 1996, quando passou a explorar economicamente os 248 quilômetros da Ferroeste, entre Cascavel e Guarapuava, e o terminal de Cascavel.
A Ferroeste foi construída entre 1991 e 1994, durante a primeira gestão do governador Roberto Requião e contou com mão-de-obra de dois batalhões do Exército Brasileiro. A obra custou, na época, cerca de US$ 340 milhões – o equivalente a R$ 958,8 milhões em valores atuais – e foi paga exclusivamente com recursos paranaenses. A Ferroeste foi estatizada no governo Jaime Lerner.
A parcela que vence nesta quinta-feira é a primeira das 108 que a Ferropar, consórcio formado pela Gemon Geral de Engenharia e Montagens, FAO Empreendimentos e Participações Ltda., Pound S/A e América Latina Logística (ALL), tem que quitar integralmente desde que ganhou o leilão da Ferroeste, em 1996. Como único interessado no negócio, o grupo ofereceu R$ 25,6 milhões pela ferrovia, o preço mínimo do leilão, e pagou R$ 1,2 milhão (5% do lance) à vista. A Ferropar ganhou três anos de carência para começar a quitar a dívida, que foi dividida em 108 parcelas trimestrais de pouco mais de R$ 1 milhão. O contrato tem validade por 30 anos.
A primeira venceria no dia 15 de janeiro de 2000 e as demais nos dias 15 de abril, de julho e outubro de cada ano, até 2026. Mas, em 31 de março de 2000, o consórcio avisou que não honraria o compromisso. O governo Jaime Lerner então concedeu à Ferropar um diferimento de quase 74% de todas as parcela que venceriam entre 2000 e 2003, o que em valores atuais atingiria R$ 26 milhões, segundo a Ferroeste.
Com o diferimento, o consórcio assumiu o compromisso de investir na aquisição de locomotivas e vagões e cumprir metas mínimas de transporte de cargas. No entanto, segundo a direção da Ferroeste S/A, o consórcio não cumpriu o acordo, nem realizou os investimentos em equipamentos, nunca atingindo as metas de transporte da produção do Oeste paranaense.
Transporte
?Em 2003, por exemplo, a meta era transportar 3,1 milhões de toneladas, mas a Ferropar só atingiu 1,1 milhão. De 1997 a 2003, a meta era de 16,7 milhões de toneladas, mas não ultrapassou a 6,6 milhões?, afirma o diretor Administrativo, Financeiro e Jurídico da Ferroeste, Samuel Gomes.
?Por culpa da Ferropar deixaram de ser transportadas pela ferrovia mais de 10 milhões de toneladas nesse período. Considerando-se que um caminhão padrão comporta 25 toneladas, foram necessárias mais de 400 mil carretas para transportar a tonelagem que a Ferropar deixou de transportar?, explica Gomes.
?Por isso os produtores foram obrigados a escoar a safra por caminhões, pagando mais caro pelo frete e diminuindo seus lucros. E o Paraná sofreu com o desgaste de sua malha rodoviária e com as imensas filas de caminhões na BR-277 e no porto?, garante.
Já o presidente da Ferroeste, Martin Roeder, afirma que a Ferropar também não investiu na compra de locomotivas e vagões. Segundo ele, para cumprir a meta de transporte a que se comprometeu, o consórcio deveria possuir hoje 60 locomotivas de 2,5 mil HPs e 732 vagões com capacidade para 60 toneladas cada. Mas até o momento, a Ferropar só dispõe de 17 locomotivas, de 1,6 mil HPs, e 260 vagões com capacidade de 45 toneladas cada.