A tropa de choque do governo entrou em cena mais uma vez nesta quarta-feira, na primeira reunião da CPI mista da Petrobras. Com o apoio do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da comissão exclusiva do Senado, também eleito para presidir os trabalhos da CPMI, aliados da presidente Dilma Rousseff conseguiram impor um início de trabalho lento, conforme preferência do Palácio do Planalto, adiando para semana que vem a análise dos primeiros requerimentos.

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Enquanto isso, a oposição apelou para uma overdose de requerimentos – foram mais de 500 em três horas de sessão – e comemorou a esperada adesão de governistas rebelados, embora ainda baixa, mas com potencial de fogo. O presidenciável Aécio Neves (PSDB-SP) assumiu papel de protagonista, assumindo a liderança em uma estratégia de atrair olhares para as investigações.

Como esperado, os aliados de Dilma, Vital e o deputado Marco Maia (PT-RS), assumiram seus postos. Respectivamente: presidência e relatoria da comissão. Apesar da pressão oposicionista e pedidos de que a segunda reunião já ocorresse amanhã, o relator alegou ausência de tempo para elaborar um plano de trabalho no prazo e agendou o próximo encontro para o fim da tarde de segunda-feira, 2 de junho. No cronograma, o petista vai esbanjar do uso do calendário, apertado pela Copa do Mundo, convenções partidárias, recesso parlamentar e início da campanha eleitoral.

Plano

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O plano dos governistas seguirá rumo semelhante ao traçado pelo relator da CPI exclusiva do Senado, José Pimentel (PT-CE), abrandando convocações e pedidos de quebras de sigilo perigosas ao governo, pesando a mão em pontos da investigação que podem esbarrar nos adversários, em especial na gestão Fernando Henrique Cardoso.

Apesar da vitória da base na eleição do presidente, oposicionistas comemoraram o que consideraram uma primeira vitória contra a maioria governista. O deputado Enio Bacci (PDT-RS) concorreu ao cargo com Vital e recebeu 10 votos – a oposição conta com oito membros, entre deputados e senadores. “O período eleitoral atrapalha muito o governo. Está tudo mundo querendo se salvar.”, destacou o líder tucano na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), minimizando a aparente cautela entre os insatisfeitos da base.

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Um dos nomes com os quais os oposicionistas contam para conseguir aprovar pedidos ameaçadores ao governo, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), se esquivou. “Os votos do PMDB não vão contar nem para a oposição nem para o governo. Vamos nos ater aos fatos”, afirmou. Cunha participou em jantar do partido com a presidente Dilma na noite de ontem quando foi elogiado pela petista, que defendeu alianças estaduais com peemedebistas.

Sigilo

Além de contar com adesões da base rebelada, a estratégia oposicionista passa ainda pela pressão por quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico de figuras como o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Também querem acesso a atas de reuniões da Petrobrás.

Nesse primeiro momento, a oposição decidiu apelar para os holofotes atraídos por Aécio Neves. O tucano apelou para uma brecha regimental e assumiu a liderança do PSDB no lugar de Aloysio Nunes (SP), que está fora do País, como forma de poder se manifestar na comissão que não integra – ele alegou falta de tempo devido a campanha, mas ficou incomodado com a repercussão negativa do abandono da oposição à CPI do Senado.

Governistas voltaram a acusar o tucano de uso eleitoral da CPI. “Ficou claro hoje que a CPI tem cunho eleitoral, porque o candidato da oposição está muito mal nas pesquisas, e resolveu comparecer hoje. Não vamos deixar”, ameaçou o deputado Sibá Machado (PT-AC).

Na próxima semana, será solicitada a incorporação, pela CPMI, da CPI exclusiva do Senado. Veterano em comissões de inquérito, Alvaro Dias (PSDB-PR) disse já ter conversado com o presidente de ambas as CPIs. “O fato de eles também terem replicado as indicações evidencia que já pensavam mesmo em deixar a comissão no Senado morrer”, destaca o senador.. Antes mesmo da instalação da CPMI, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), defendia a ideia, que pode acabar vingando.