O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou nesta quinta-feira, 29, em Paris, que os recentes casos de violência política, incluindo o ataque a tiros à caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelam um momento de “muita tensão” no Brasil.

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Para o magistrado, o Supremo está exposto por ter de tomar uma decisão sobre a prisão após condenação em segunda instância só agora, na hora em que o pré-candidato e líder do PT pode ser detido. Mendes fez as declarações ao término de uma visita à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde foi ouvido sobre o papel do Judiciário em meio à crise política.

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Questionado sobre o ataque à caravana de Lula no Paraná e as ameaças a outro ministro, Edson Fachin, além do assassinato do vereadora do PSOL do Rio Marielle Franco, o magistrado disse que o STF está sendo criticado por pessoas que “muitas vezes não estão bem informadas sobre o que se está discutindo”.

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“Nós estamos vivendo um momento muito tenso. No nosso caso, no Judiciário, temos uma exposição muito grande”, afirmou. “O tribunal tem um papel muito central em muitas das discussões, e portanto os ânimos se acirram.” O ministro afirmou ainda que em parte a tensão política se deve à indefinição no quadro eleitoral.

“A falta de candidatos, muitos candidatos de si mesmos, a não consolidação de candidaturas leva à exacerbação. Mas esse não pode ser o nosso papel”, ponderou. “Nosso papel tem de ser o de colocar a bola no jogo e chamar atenção para o respeito às garantias como um todo.”

Questionado sobre o julgamento do habeas corpus de Lula, no dia 4 de abril, Gilmar Mendes protestou contra a demora do STF em analisar o tema. “Eu sou um pouco crítico: nós não tivemos a melhor condução dessa matéria. Problemas sérios, grandes, tem de ser enfrentados, não tem de ser colocados para baixo do tapete. Talvez por boas razões se tentou retardar o debate, em dezembro ou no início de fevereiro, e a questão só se agigantou”, reclamou.

Mendes disse que o tribunal não pode ter receio de reverter decisões tomadas em instâncias inferiores da Justiça. “O papel de tribunal é muito complexo. Enfrentamos um jogo de torcidas, e o tribunal não pode entrar nesse jogo. O tribunal tem de arbitrar esses conflitos, de maneira a ser um moderador”, defendeu. “O tribunal não é um chancelador de decisões de primeiro grau, ainda que ela tenha o apoio de 200 milhões de habitantes. O tribunal tem de aplicar, e aplicar bem a Constituição.”

Sobre as prisões pela Polícia Federal do empresário José Yunes e do coronel da PM reserva João Batista de Lima Filho, amigos do presidente Michel Temer, Mendes disse não ter dados para avaliar o caso, mas pediu prudência. “A prisão preventiva precisa ter pressupostos que vocês podem ler no artigo 321 do Código de Processo Penal. A ideia para instrução penal, da aplicação da lei penal, a questão do atingimento (sic) dos princípios de ordem pública. Tudo isso precisa ser olhado com muito cuidado e certamente haverá também questionamentos a essas prisões e isso será analisado”, advertiu. “É importante que façam as coisas segundo o devido processo legal, que não haja exorbitância e que, se houver aqui ou acolá um equívoco, que o tribunal possa corrigir.”