O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse nesta quinta-feira, 21, que vai pedir acesso aos documentos em posse da Polícia Federal antes de tomar qualquer atitude em relação a acusações contra seus auxiliares que constam de inquérito sobre o cartel de trens em São Paulo. “Não tem sentido afastar (os secretários citados), já que não tivemos acesso aos documentos”, disse. O governador afirmou que já entrou com pedido na Justiça para obter a íntegra das informações relatadas pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer.
O Estado revelou nesta quinta-feira o ex-executivo da empresa alemã entregou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um relatório em que afirma ter “documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”.
No mesmo documento, o ex-diretor da empresa alemã disse que o hoje o secretário da Casa Civil do governo Alckmin, deputado licenciado Edson Aparecido (PSDB), foi apontado pelo lobista Arthur Teixeira como recebedor de propina das multinacionais suspeitas de participar do cartel de trens na capital paulista entre 1998 e 2008.
Aparecido afirmou nesta quinta-feira que vai processar Rheinheimer, a quem classificou de “bandido” por fazer “uma denúncia em troca de cargo”. No relatório, o ex-diretor da Siemens sugere receber em contrapartida às denúncias a sua nomeação para alto cargo na mineradora Vale. “Vou processar esse bandido, que faz denúncia desse tipo em troca de cargo. (Isso é) absolutamente ilegal”, afirmou, numa referência ao fato de Rheinheimer pedir, no documento, um emprego na mineradora Vale por fazer as denúncias contra o governo paulista.
As acusações do ex-diretor foram enviadas pelo Cade à Polícia Federal, segundo relatório de um delegado federal de Brasília. O material que foi anexado ao inquérito que investiga o cartel em São Paulo, também atingem outros secretários de Alckmin. Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico) são citados por Rheinheimer porque, segundo relatou, teve “a oportunidade de presenciar o estreito relacionamento do diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira, com estes políticos”.
Nesta quinta-feira, Fernandes disse que manteve relação “estritamente profissional” com Teixeira. “Este assunto já foi bastante explorado. Conheço o cidadão Arthur Teixeira, estive com ele três vezes nestes 35 meses de governo, mas minha relação foi e tem sido totalmente profissional.”
José Aníbal (Energia) também apareceu no documento, citado como político “envolvido com a Procint”. Segundo o ex-diretor da Siemens, Aníbal “tratava diretamente com seu assessor, vice-prefeito de Mairiporã, Silvio Ranciaro”. Em nota, secretário afirmou: “De mim ele vai receber o tratamento que merece. Estou abrindo ações para processá-lo por calúnia e difamação e também por danos morais. Quero vê-lo onde ele estará cedo ou tarde: na cadeia.”
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, disse em nota que o partido repudia o que classificou de “interferência político-partidária na averiguação de formação de cartel”. “Causa repulsa o fato de o Cade, presidido por alguém ligado ao PT, esconder do Judiciário e da Corregedoria-Geral paulistas uma denúncia feita explicitamente com promessa de emprego futuro.”
Aécio fez menção à ligação de Vinicius Carvalho, presidente do Cade, com o secretário de Serviços da gestão de Fernando Haddad, Simão Pedro (PT). Antes de assumir a chefia do órgão, Carvalho trabalhou com o petista, autor de representações que apontavam suspeitas de formação de cartel. Pedro confirmou ter acionado o Cade e disse todas as suas ações “foram divulgadas, o que evidencia a prática de transparência que caracteriza o meu mandato”.
A bancada do PT na Assembleia pediu nesta quinta-feira o afastamento dos secretários mencionados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.