‘Geração 92’ quer comandar os Estados

As manifestações de junho do ano passado representaram o fim de um hiato de mais de 20 anos sem movimentos massivos nas ruas do País, mas não deixaram como legado a formação de lideranças políticas identificadas com suas ideias. Não há, nas campanhas eleitorais deste ano, em nenhuma das esferas, o registro de candidatos que tenham se destacado como referência das ruas.

Em contrapartida, líderes da “geração de 92” – que começou a se aglutinar na efervescência das eleições diretas de 1989 e atingiu o ápice com os caras-pintadas do “Fora Collor” – despontam em disputas majoritárias. Seis candidatos a governador são contemporâneos do movimento estudantil da época – Alexandre Padilha (PT), em São Paulo; Marcelo Ramos (PSB), no Amazonas; Flávio Dino (PC do B), no Maranhão; Lindbergh Farias (PT), no Rio; Camilo Santana (PT), no Ceará; e Lúdio Cabral (PT), em Mato Grosso.

A esse grupo se soma outra tropa de postulantes a vagas no Senado, na Câmara e em Assembleias. Fazem parte desta turma Ricardo Gomide (PC do B), candidato a senador no Paraná, e Floriano Pesaro (PSDB) e Orlando Silva (PC do B), que tentam uma vaga de deputado federal por São Paulo. Eles estiveram juntos ou se enfrentaram em congressos da União Nacional dos Estudantes (UNE), eleições de centros acadêmicos e de diretórios centrais de estudantes (DCEs).

Juntos combateram, na base ou na linha de frente, o governo de Fernando Collor, que acabou sofrendo um processo de impeachment.

Desta safra de políticos, os dois nomes que mais se destacam estão hoje no mesmo partido, mas foram adversários no movimento estudantil.

Em 1992, Lindbergh, então no PC do B, era o popular presidente da UNE que frequentava programas de TV e brilhava no alto dos carros de som. Enquanto isso, Padilha, já no PT, era um dirigente de bastidores. Sua ação era discreta no movimento estudantil porque o então aluno de Medicina da Unicamp foi pinçado ainda jovem para desempenhar missões importantes designadas pela alta cúpula do partido.

Em vez de disputar cargos na hierarquia da UNE, Padilha foi escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para catalisar em direção ao PT o sentimento de mudança que vinha das ruas. “Lindbergh foi uma das maiores lideranças da luta social do Brasil. É difícil compará-lo.

Já Padilha tinha uma ênfase mais técnica e atuava no movimento das executivas de curso”, lembra o ex-ministro Orlando Silva, que foi companheiro de chapa do atual candidato ao governo do Rio na UNE e depois presidiu a entidade.

Dois anos depois do impeachment de Collor, Padilha e Lindbergh tomaram caminhos opostos. O primeiro trancou a faculdade durante três anos para se dedicar às campanhas eleitorais de Lula. Já o segundo foi eleito deputado pelo PC do B.

Padilha ainda voltou para a Unicamp, onde concluiu o curso de medicina, e foi conhecer a realidade do Brasil clinicando no interior do Pará. Já Lindbergh trilhou uma tortuosa carreira política que só se estabilizou quando, a pedido de Lula, se filiou ao PT, legenda pela qual se elegeu deputado, prefeito de Nova Iguaçu (RJ) e senador.

Opostos que se atraem Quando Flávio Dino estava saindo do movimento estudantil no começo dos anos 1990, Padilha e Lindbergh estavam começando a despontar. “Eu e Padilha éramos da mesma corrente do PT, a Articulação Estudantil. O PC do B era nosso adversário”, lembra o hoje candidato – e líder da disputa – ao governo do Maranhão pelo PC do B. “Eu fui para o PT na época porque o partido combatia o José Sarney e o PC do B o apoiava. Hoje é o PT quem é linha auxiliar e nós estamos contra”, diz.

“Eu, Lindbergh, Padilha e Orlando éramos da mesma geração”, lembra o vereador paulistano Floriano Pesaro, que tenta uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSDB. Nas passeatas e assembleias da época, ele despontava como um dos mais bem-sucedidos quadros da juventude tucana.

Seu partido, vale lembrar, nasceu em 1988, apenas quatro anos antes do “Fora Collor”. “Naquela época, o PSDB e o PC do B estavam unidos contra um adversário comum: o PT”, lembra o vereador tucano. Pesaro tem uma explicação curiosa sobre o fato de seu partido não ter formado tantos políticos bem-sucedidos como os rivais da “esquerda”. “Os velhos do PSDB não deixaram ninguém despontar. A alternância de poder no partido é quase nula. É sempre (José) Serra ou (Geraldo) Alckmin”, afirma.

Tucanos, petistas e comunistas concordam em pelo menos uma avaliação. Os movimentos de junho de 2013 e de 1992 tiveram características completamente diferentes. “O movimento de junho se constituiu pela negação da política. Seria estranho alguém representá-los”, avalia Orlando Silva.

Velhos tempos

Candidato do PT governo de Mato Grosso, o ex-vereador Lúdio Cabral tem uma trajetória parecida com a de Padilha, de quem até hoje é amigo. Médico formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, Lúdio também atuou nas executivas de curso e, junto com Padilha, participou das movimentações pela implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Na semana retrasada, os dois se encontraram em Brasília, onde o ex-ministro da Saúde gravou uma participação no programa de TV de Lúdio.

Já Camilo Santana, candidato a governador do Ceará, foi presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Ceará e um dos mais destacados líderes do Nordeste no movimento “Fora Collor”.

Candidato a governador do Amazonas pelo PSB, Marcelo Ramos foi dirigente da juventude do PC do B, mas migrou para o PSB. Depois de se eleger vereador de Manaus pelo PC do B, tornou-se marineiro e foi ungido candidato na “cota” da presidenciável Marina Silva. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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