O presidente nacional do PT, José Genoíno, disse ontem, em Curitiba, onde veio participar de encontro com lideranças e a militância partidária, que veria com bons olhos uma aliança com o PMDB para a disputa da Prefeitura da capital, no ano que vem.
Negou, porém, que tenha vindo tratar do assunto: “A questão de 2004, a costura de uma aliança não é prioritária neste momento. Prioridade é o debate sobre as reformas tributária e da Previdência”, afirmou o petista, que também se reuniu com o governador Roberto Requião (PMDB), no Palácio Iguaçu.
Também mostrou-se prudente ao abordar as prévias para definição de candidaturas. Ponderou que o PT faz o que chamou de “aconselhamento político”: “Onde o partido é governo e vai disputar a reeleição, é bom não haver prévia. O entendimento é melhor para todos. Nas cidades estratégicas, onde queremos ganhar as eleições e dispomos de lideranças com boas condições para isso, temos que sentar e, embora respeitando a pluralidade, buscar o entendimento. Temos que ganhar as eleições junto com nossos aliados”, observou, incluindo Curitiba entre as cidades que definiu como estratégicas. E fez uma ressalva: “Aconselho. Mas, se não convencer mentes e corações, vamos seguir o estatuto do partido, que contempla as prévias”.
Resistência
Genoíno disse que o governo do PT tem vontade e coragem política e vai realizar as reformas em tramitação no Congresso. As resistências, segundo ele, já eram esperadas e são naturais, mesmo dentro do partido. “O PT e o governo não ficarão reféns de meia dúzia que não deseja mudar. Estamos preparados para enfrentar a resistência.” Destacou que a proposta de reforma previdenciária do atual governo é diferente da apresentada pelo governo anterior: estabelece piso e teto, não pretende privatizar o sistema nem estimular a previdência complementar: “Queremos fazer uma reforma justa e equilibrada. Não pretendemos punir os servidores públicos, e sim ajudar 80% dos brasileiros que dependem do sistema geral da Previdência. É justo que os altos salários dêem sua contribuição solidária para melhorar a vida da grande maioria”. E completou “Previdência é produção, não deve ser um segundo salário. Queremos viabilizar o sistema para a geração de hoje e para as gerações futuras”.
Recusou-se a ver no manifesto divulgado por trinta parlamentares petistas na quinta-feira, em Brasilia, defendendo “crescimento já”, uma indicação de que a ala rebelde do partido está crescendo. Afirmou que não concorda com o conteúdo do documento e que acha equivocada a posição desses correligionários, mas que a atitude é uma demarcação de posição. Analisou de forma semelhante a nota da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) as críticas da Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB) e o manifesto dos magistrados e do Ministério Público sobre a reforma da Previdência e a política econômica, frisando sempre que respeita todas elas como naturais dentro de uma democracia.
No caso específico dos parlamentares petistas, avaliou como “manifestação natural de angústia”, e sublinhou que “a liberdade de opinião no PT é sagrada”.
Questionado sobre a punição que o Partido dos Trabalhadores pode impor aos integrantes da chamada ala radical, Genoíno só respondeu que a liberdade de opinião é sagrada dentro do PT.
Petista conversa com Requião
O presidente nacional do PT, José Genoíno, e o governador Roberto Requião definiram ontem no Palácio Iguaçu posição comum de apoio à manutenção da aliança entre petistas e peemedebistas para as próximas eleições. Os dois também reafirmaram a defesa das reformas agrária e da Previdência. “Se depender de mim e do Genoíno, a aliança que nós construímos no segundo turno das últimas eleições vai muito adiante. Será exercitada nas próximas eleições municipais e na minha própria sucessão”, afirmou Requião.
Sobre a reforma previdenciária, Requião disse que isentou todos os inativos do Paraná da cobrança da contribuição, mas que caso seja necessário realizar alguma taxação, que seja nos altos salários. “Sou contra o desconto dos inativos de pequenos salários, mas não me oponho à cobrança dos valores da previdência sobre os salários de R$ 10, R$ 15 mil”, disse Requião. O governador reforçou seu apoio não só para a reforma previdenciária, mas também para a fiscal.
Financiamento público de campanha
Brasília
– O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, defendeu ontem, durante debate transmitido pela TV Câmara, um sistema eleitoral no Brasil sem coligações partidárias, com financiamento público exclusivo para os partidos e a adoção de uma lista fechada de candidatos. Dirceu afirmou que o PT sempre defendeu as coligações partidárias exclusivamente com base na identidade programática, mas não considera que elas devam persistir no sistema eleitoral brasileiro, porque, na avaliação do partido, são desnecessárias.Sobre o financiamento público para os partidos, o ministro argumentou que a despesa prevista para os cofres públicos de R$ 800 milhões é muito menor do que o País tem hoje com as campanhas financiadas pelas empresas. A lista fechada, por sua vez, que permite a escolha dos candidatos por uma seleção interna do partido, vai fortalecer, na opinião de Dirceu, a representação política dos partidos no País.