Sem querer entrar na polêmica se o ministro da Defesa deve ser um civil ou militar e se o general Joaquim Silva e Luna deve permanecer no cargo que agora ocupa como interino, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que ele está realizando um “ótimo trabalho” à frente da pasta. “Em relação ao Ministério da Defesa, o governo entende que o general Luna está realizando um bom trabalho e possui as condições e capacidade técnica de honorabilidade, de patriotismo suficientes para continuidade desta missão”, declarou Marun.
Questionado se Silva e Luna deve permanecer no cargo, até o final do mandato, o ministro reiterou: “estou dizendo que ele está, neste momento, realizando um ótimo trabalho”. Diante da insistência dos jornalistas se ele estava fazendo ótimo trabalho como interino, o ministro respondeu, encerrando a discussão: “vocês é que estão dizendo”.
A pressão pela substituição do general da reserva Joaquim Silva e Luna no Ministério da Defesa tem causado incômodo entre os comandantes militares que decidiram se pronunciar não só em apoio ao colega, mas principalmente, ressaltando que não há uma imposição de que seja um militar a ocupar o posto, assim como não há motivo para que outras carreiras de Estado se sobreponham a deles.
De acordo com oficiais-generais consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo, o protagonismo que os militares estão tendo neste momento, após a decretação da intervenção federal no Rio de Janeiro, está levando a uma pressão que consideram descabida e tentando criar um problema político entre o presidente Michel Temer e os comandantes, que em todas as suas observações, reiteram que ele é o comandante em chefe das Forças Armadas.
Na segunda-feira, 5, o comandante da Marinha, almirante Eduardo Leal Ferreira, em entrevista ao O Globo, por escrito, defendeu que “um militar, como qualquer outro profissional escolhido pelo presidente da República, pode sim chefiar o Ministério da Defesa. Anteriormente, profissionais de outras carreiras de Estado já exerceram esse cargo, e não há qualquer razão para que um militar não possa exercê-lo”. Em seguida, lembra que, “nos Estados Unidos, por exemplo, o atual ministro da Defesa é um fuzileiro naval de carreira”. Ele traduzia o sentimentos de todos, de que não há nada que impeça um militar de ocupar o cargo. O comandante não fala, mas outros oficiais-generais lembravam o incômodo quando o comando do Ministério esteve na mão de um diplomata, Celso Amorim, que, aliás, foi quem levou para a Defesa o atual ministro, general Silva e Luna, quando este deixou o serviço ativo e foi transferido para a reserva.
Endossando as palavras do almirante Leal Ferreira, o comandante do Exército, em novo twitter, também nesta segunda-feira, declarou que “os argumentos do Alte Leal Ferreira são consistentes e desprovidos de ideologia. Associo-me a eles” . Na entrevista, Leal Ferreira negou que haja desentendimento entre as três Forças sobre quem deve chefiar a Defesa e destacou: “as Forças Armadas vivem um ambiente de extrema cooperação e, em atuação conjunta, buscam cumprir as missões a nós atribuídas. Não há a mínima restrição à indicação de um general para o cargo de ministro da Defesa, até porque essa escolha é prerrogativa do presidente. Adicionalmente, no caso em questão, o general Silva e Luna conta com larga experiência no cargo de secretário-geral do Ministério, e se desencumbe de suas funções de maneira competente e equilibrada”.
No mesmo dia que Silva e Luna foi anunciado como ministro interino na Defesa, na segunda passada, começaram as críticas para o fato de ele ser o primeiro ministro civil desde a criação da pasta, o que provocou contra reação da caserna. O comandante da Aeronáutica, em uma nota oficial para o seu público interno, no dia seguinte à escolha de Silva e Luna, elogiou a “consistente gestão” e “habilidade no trato das questões relativas às Forças, particularmente de nossa Força Aérea” de Raul Jungmann, que foi deslocado para o novo Ministério da Segurança Pública, e falou sobre a escolha de Silva e Luna. “Tranquiliza-nos saber que assume interinamente o seu lugar Joaquim Silva e Luna, Oficial-General da Reserva dos quadros do Exército Brasileiro que angariou, em sua permanência no cargo de Secretário Geral do Ministério da Defesa, plenos conhecimentos sobre tão importante e estratégica pasta”.
Em seguida, foi a vez do comandante do Exército, general Villas Bôas, que, em seu post no Twitter que lembrou que, por anos, conviveu com Silva e Luna, e exaltou a sua “competência” e “espírito democrático” e que, por tudo que já tinha realizado no Ministério da Defesa, onde está há quatro anos, e que o considerava um “patriota”. Mas as pressões continuaram e as queixas dos militares também chegaram ao presidente Temer, que tentou tranquilizá-los.
Com esses posicionamentos, a cúpula das Forças Arnadas deixa claro que o general Silva e Luna não seria deixado só no meio do tiroteio. No entanto, todos reconhecem que o presidente Michel Temer é o comandante supremo das Forças Armadas e que cabe a ele decidir quem ele quer que fique no comando do Ministério da Defesa porque não faz parte da formação dos militares questionar, aprovar ou desaprovar suas decisões sobre quem deve exercer o cargo de Ministro, já que a hierarquia é um dos pilares do militarismo.