Por ordem da presidente da República Dilma Rousseff, que estava preocupada com o bloqueio da rodovia desde segunda-feira, o general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), conseguiu negociar com os índios caiapós a liberação da Santarém-Cuiabá (BR-163) no trecho que corta o município de Novo Progresso, no oeste do Pará.
A estrada está sendo asfaltada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas os índios cobram promessas feitas pelo governo federal de compensar os impactos ambientais da obra com benefícios nas áreas de saúde, educação e melhorias dos ramais de acesso às suas aldeias. Como nenhuma promessa até agora foi cumprida, os caiapós paralisaram a obra, apreenderam as máquinas e chegaram a incendiar uma ponte.
A liberação da estrada ocorreu após uma tensa reunião que durou mais de três horas, na sexta-feira. No sábado pela manhã os índios liberaram as máquinas apreendidas. O general Jorge Fraxe chegou a Novo Progresso em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) acompanhado do presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curt Trennepohl e do diretor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia. Antes do começo da reunião com as autoridades de Brasília, os caciques pediram que os enviados do governo se apresentassem, informando seus nomes e cargos que exercem. A cobrança foi extensiva aos representantes das empreiteiras responsáveis pelo asfaltamento.
Mal começou a falar, o general Fraxe foi interrompido por um líder caiapó, que explicou o motivo do bloqueio. Aos gritos, ele chamou o governo federal de mentiroso e ameaçou que se as autoridades presentes não firmassem um compromisso de atender as reivindicações dos índios ninguém sairia. “Ficam todos aqui nesta sala até resolver o nosso problema. O governo está preocupado com o branco e o índio é quem sofre sem saúde e estrada. O Ibama liberou Belo Monte para o branco, então agora libera a licença para o índio ter estrada”, afirmou guerreiro caiapó com arma na mão.
Mentira – À certa altura da reunião, uma índia aproximou-se com um facão da mesa onde estavam as autoridades e, irritada, exigiu respeito. O general e o presidente do Ibama olhavam meio desconfiados para a índia, mas sem encará-la, para não parecer que a estavam desafiando. Na sua vez de falar, o general Fraxe foi categórico: “tudo o que o DNIT já acordou com os irmãos caiapós eu vim aqui para cumprir, e a empreiteira JM, que aqui está, vai dar inicio na estrada amanhã.”
Para ele, as promessas feitas aos índios pelo ex-diretor demitido Luiz Alberto Pagot eram “coisas do passado”. O general disse que não estava em Novo Progresso para mentir para os índios.
Curt Trennepohl, afirmou que o Ibama não será empecilho para que a estrada que leva à aldeia dos índios seja asfaltada, embora não exista no órgão nenhum projeto nesse sentido. “Vou designar uma equipe de técnicos do Ibama para junto com os caiapós fazerem este trabalho”, prometeu. Ao falar pela Funai, Aloysio Guapindaia também prometeu levar as reivindicações dos índios a Brasília para que a saúde deles receba maior atenção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.