O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) renunciou ontem à vaga no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, justamente na véspera de uma votação importante: a do relatório que pedia a cassação do deputado federal Roberto Brant (PFL-MG), um partido historicamente aliado do PSDB.
Segundo o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), Gustavo Fruet deixou o cargo por estar com muito trabalho na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, onde atua como sub-relator. Em substituição, o PSDB indicou Jutahy Júnior (PSDB-BA), que votou contra o parecer que recomenda a cassação do deputado Roberto Brant por quebra de decoro parlamentar.
O deputado Jutahy Junior admitiu que a liderança do PSDB conversou com vários parlamentares para ocupar a vaga de Gustavo Fruet, mas negou que tenha concordado em votar a favor de Brant por pressão do partido. Jutahy disse que votou de acordo com sua convicção e saiu em defesa do pefelista, afirmando que o caso dele não é igual ao do ex-deputado José Dirceu (PT-SP).
"Eu vim só para votar nesse processo, mas a minha convicção é de que ele não cometeu nada que fira a conduta ética. Se for condenar o caixa dois, tem que condenar todo mundo", afirmou. Jutahy disse que no caso de Brant foi uma empresa privada que o procurou para fazer a doação e por isso não entende que o erro tenha sido do parlamentar. Segundo ele, o dinheiro doado a Brant tem origem conhecida, o que não seria o caso do esquema do PT. "Ele não cometeu erro e se cometeu algum, foi menor. O Brant não está nesse esquema montado pelo PT", afirmou.
Alberto Goldman, em defesa de Brant, chegou a dizer que "é impossível pensar que o Congresso tire do seu convívio" pessoas como Brant. "O Congresso ganha com o convívio com ele. O dinheiro é privado e não tem relação com o valerioduto", afirmou. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) discordou dos tucanos e disse que o ex-minisro e ex-deputado federal José Dirceu foi cassado por ter participado de um esquema de repasse ilícito de dinheiro que envolvia outros partidos, inclusive o PFL de Brant.
"Pela primeira vez o interesse partidário, de alianças, foi mais forte", acusou o deputado. "Ninguém nega no outro pólo, o da esquerda, as qualidades do deputado José Dirceu, mas ele foi cassado por ter participado de um esquema de repasse ilícito de dinheiro e os tentáculos do valerioduto atingem também outros partidos, como PSDB e PFL", afirmou.
Brant, ex-ministro da Previdência Social no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é acusado de ter recebido R$ 102,8 mil da agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério de Souza, um dos supostos operadores do mensalão. Em sua defesa, o parlamentar argumenta que os recursos foram doados pela Usiminas. Segundo ele, a SMP&B, que prestava serviço para a empresa de siderurgia, apenas repassou o dinheiro usado para pagar despesas da campanha para a prefeitura de Belo Horizonte (MG), em 2004.