Dez anos após seu surgimento, a realização do Fórum Social Mundial (FSM) retorna a Porto Alegre a partir da próxima semana com estrutura diferente daquele evento lançado no começo da década para fazer contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.
Em vez de concentrar debates em uma única cidade, como ocorreu em sua primeira edição e nas quatro seguintes, o fórum novamente dividirá suas atividades, em 2010, em pelo menos 27 eventos regionais, nacionais e temáticos, no Brasil e no exterior.
Entre as atividades previstas, o FSM terá um seminário “âncora” em Porto Alegre – cidade que acolheu quatro edições, incluindo as três primeiras – para fazer um balanço de seus dez anos e indicar o futuro do evento.
Foram convidados dezenas de palestrantes que acompanharam o surgimento do fórum, como o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra João Pedro Stédile.
A participação de chefes de Estado ainda não está confirmada. Até o momento, os organizadores aguardam a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 26 de janeiro, além do presidente eleito do Uruguai, José Mujica, e do vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera.
Embora não seja novidade, a descentralização gera debate sobre o possível enfraquecimento do fórum. Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), uma das entidades do comitê internacional, lembra que em 2008 o Dia de Ação Global do fórum teve atividades em mais de 70 países.
Depois do FSM realizado em Belém (Pará), em 2009, ficaram agendados vários eventos este ano rumo a Dacar, no Senegal, em 2011, quando ele voltará a ser centralizado, explica o diretor do Ibase. Questionado sobre a fórmula pulverizada, Grzybowski avalia que ela mantém a força do fórum dentro dos movimentos, mas talvez não no público externo.
A descentralização foi reivindicada por Organizações Não-Governamentais (ONGs) e também respondeu a um problema de logística, lembra Grzybowski. Após a primeira edição, o evento cresceu rapidamente, aumentando a dificuldade de encontrar espaços disponíveis, tradutores voluntários e outros recursos. Segundo dados do FSM, o lançamento teve quase 20 mil inscritos em 2001. Já o evento de 2003, também em Porto Alegre, atraiu perto de cem mil pessoas.
Em 2010, os organizadores esperam aproximadamente 20 mil inscritos para as atividades que, além da capital, serão realizadas em municípios da região metropolitana da capital gaúcha entre os dias 25 e 29 de janeiro.
“Foi uma demanda de um conjunto de organizações populares que disseram não ter fôlego para um fórum por ano”, diz o coordenador-geral da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad, sobre a descentralização. Até agora, cinco mil pessoas estão inscritas.
Indagado sobre se o FSM mantém o contraponto a Davos como seu principal foco, Haddad avalia que este não é mais o centro do debate e o próprio evento econômico mudou. “O FSM trouxe preocupações ao fórum econômico de pelo menos incorporar certos temas”, aponta, citando questões sociais e ambientais.
A Prefeitura de Porto Alegre divulgou que irá aplicar cerca de R$ 2 milhões na infraestrutura e organização do evento. O organizador do comitê estadual, Mauri Cruz, explica que o evento receberá, em serviços, outros R$ 2 milhões do governo federal, por intermédio de estatais que financiam atividades locais, além de contar com recursos das prefeituras e doações das próprias ONGs.
O fórum terá atividades em municípios administrados pelo PT na região metropolitana – exceto a capital, governada pelo PMDB. Cruz lembra que as prefeituras foram ao FSM em Belém apresentar a proposta para sediar eventos e considera que o fato de serem comandadas pelo PT ajudou na iniciativa.