Após 16 anos de Senado e quase 20 milhões de votos recebidos na disputa presidencial do ano passado, a senadora Marina Silva (PV-AC) quer voltar para a “discrição” da vida de cidadã comum. Com oito convites de universidades americanas e europeias para dar palestras, a ex-seringueira conta com o apoio de colaboradores próximos para criar o Instituto Marina Silva, pretende ainda terminar sua especialização em Psicopedagogia e trabalhar na reestruturação do PV.

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“O Instituto Marina Silva é algo para começar a vida. Lembra daquela história da tenda do Gandhi, onde ele ficava debaixo dos paninhos? O Instituto será a minha tenda, não tem nada de pomposo e de grandes recursos”, conta a senadora, quando falta pouco mais de uma semana para deixar o Senado. Embora sempre tenha recebido propostas para dar palestras no exterior, será a primeira vez que a ex-candidata à Presidência da República vai cobrar por sua participação, uma vez que até então exercia cargos públicos e não se sentia à vontade para aceitar uma remuneração.

Um dos convites veio da Massachusetts Institute of Technology (MIT), mas ela ainda não confirmou se irá. “Obviamente que uma parte do meu tempo é para a militância socioambiental e política. Uma outra parte vou ter que ter uma forma de me remunerar”, disse, sem revelar quanto pretende cobrar por palestra. “Nem sei como é que funciona isso, mas certamente será uma remuneração justa”.

Marina vem sendo questionada sobre as chances de se candidatar em 2012 já que, após seu desempenho na eleição presidencial, seria, em tese, relativamente fácil ganhar uma disputa municipal. “Graças a Deus não me sinto tentada. Talvez qualquer pessoa com 20 milhões de votos não estaria dizendo que vai ficar debaixo de uma tenda semelhante ao Gandhi. É uma escolha, não é simplesmente pelo espaço do poder”, justificou, ao defender que o PV tenha candidaturas regionais “densas” no ano que vem. “Quero que tenhamos boas alternativas, não precisa ser eu. Havia em 2006 uma pressão muito forte para que eu fosse candidata (ao governo) no Acre e eu sabia que tinha pessoas melhores que eu”, afirmou. “Sou eleitora do Acre, sou da Amazônia e vou continuar desse jeito”, reforçou.

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No Instituto Marina Silva (IMS), que deverá ocupar a partir de fevereiro uma “salinha discreta” em Brasília, a senadora pretende reunir o acervo de 30 anos de militância política. “Todo mundo espera acumular algo na vida para deixar um legado e contribuir para um mundo melhor”, disse. Marina conta que ainda não há definição sobre outros focos de atuação. Além do IMS, Marina continuará participando do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), uma associação civil e apartidária criada em outubro de 2009. “Meu espaço (no cenário político) será cada vez mais discreto”, disse.

Reestruturação do PV

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Fora do Senado, Marina quer concentrar seus esforços na reestruturação do PV, de modo que a legenda consiga se consolidar nacionalmente como terceira via, se contrapondo ao PT e PSDB. “O desafio é fazer jus a isso que a sociedade sinalizou (na última eleição presidencial). A sociedade quer uma nova forma de fazer política, quer um processo aberto e transparente, sem as velhas estruturas feudais. É para isso que vou me mobilizar”, afirmou.

Segundo a senadora, é preciso que o partido aprenda a “agir em rede”, ouvindo os segmentos sociais, e que absorva as boas experiências de outros partidos. “Eleição e partido não são os mais importantes. O projeto alternativo de desenvolvimento integrado se faz com os diferentes segmentos da sociedade”, teorizou. Por isso, Marina se diz orgulhosa de saber que as Casas de Marina (antigos comitês domiciliares de campanha) continuarão existindo, agora voltadas para ações sociais. “Mesmo depois da eleição as pessoas querem manter as Casas de Marina associadas à causa. Isso é muito mais do que pensar em eleição. A eleição acabou, mas a causa vai continuar”, afirmou.

Sobre sua relação com o público evangélico, Marina negou que pretenda dar uma atenção especial ao segmento, mas ressaltou que continuará os trabalhos de base que realiza há 13 anos com evangélicos. “Não vou fazer uso instrumental da minha fé, nunca fiz. Não vou fazer uso eleitoral da minha religião, nunca fiz. O que eu não posso é não fazer aquilo que eu acho que tem que ser feito, que é contribuir para a cidadania política dos brasileiros, e a comunidade evangélica é também de brasileiros”.

Herdeiros no Congresso

Principal voz da causa ambientalista nos últimos anos no Congresso Nacional, Marina diz que não deixará “herdeiros de um espólio”, mas que conta com a atuação de velhos aliados que continuarão na Casa. “A minha pequena contribuição nesses 16 anos eu quero que fique viva e que dê muitos ramos. Que o Cristovam (Buarque), o(Eduardo) Suplicy, o Jorge (Viana) e que outras pessoas possam olhar para essas causas com um olhar integrado. Se você faz algo que tenha alguma relevância, com certeza não ficará com um, ficará com todos”, disse. “Alguns terão, talvez por vínculos, uma responsabilidade maior e o Jorge com certeza estará nesse lugar. Mas espero que não seja um espólio, que seja algo vivo”, completou.