O senador Flávio Arns, sem partido, disse ontem, 4, a O Estado, que está preparado para ser o primeiro ocupante de um cargo majoritário a enfrentar um processo de perda de mandato.
Arns afirmou que ainda não foi, formalmente, comunicado pela direção nacional do PT sobre um possível questionamento do seu mandato, mas declarou que está pronto para ir brigar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela manutenção da vaga.
Anteontem, a executiva nacional do PT decidiu encaminhar para o diretório nacional um pedido para que o partido questione na Justiça Eleitoral a saída do senador, pedindo que o mandato dele seja entregue ao seu suplente. A reunião do diretório para decidir se recorre ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está marcada para o próximo dia 17.
O senador, que deixou o PT na semana passada, disse que será também o primeiro caso de questionamento da fidelidade de um partido aos seus princípios e programa.
“Este vai ser um debate interessante para a vida partidária brasileira. Acho que terei a possibilidade de convencer a justiça eleitoral brasileira sobre um caso de quebra de fidelidade pelo partido”, disse.
Arns deixou o PT depois de se declarar “envergonhado” com a posição de apoio do partido ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética.
Em sua defesa, o senador afirmou que um dos argumentos será a discriminação que sofreu no partido. Um dos exemplos citados pelo senador foi a forma como o presidente Lula comentou sua saída do partido.
“Ele afirmou que eu era um senador de primeiro mandato, que estava sempre “encrencado” com o partido. As várias declarações de muitos membros do partido mostram que há essa discriminação”, disse o senador paranaense. E lembrou que a senadora Marina da Silva, agora no PV, deixou o PT pelos mesmos motivos que ele, mas o partido não pediu seu mandato.
Arns acusou o PT de trair seu ideário ao se aliar ao presidente Sarney e também fugiu ao princípio do diálogo partidário ao impor uma orientação para a bancada no Conselho de Ética.
“Aquele PT não foi o partido que eu entrei. As minhas bandeiras são as mesmas. Eu não mudei. O PT foi um partido que surgiu da necessidade de diálogo e foi esse diálogo que faltou”, afirmou.
Prazo final
O senador tem até o final do mês para decidir seu próximo partido. De acordo com a legislação eleitoral, para concorrer nas eleições do próximo ano, o candidato tem que estar filiado um ano antes no partido.
Arns disse que recebeu convites da maioria dos partidos para se filiar, mas que ainda não tem uma decisão. “Tenho vinte e seis dias. Isso é uma eternidade em política. Agora, vou me concentrar neste debate sobre a fidelidade”, desconversou.
Arns já definiu que pretende concorrer novamente ao Senado. E certamente, sua escolha vai ser orientada por esta possibilidade. “Todos os partidos com os quais eu conversei oferecem essa possibilidade”, afirmou o senador, recusando-se a citar as siglas. Uma das possibilidades, que ele não confirmou, é um retorno ao PSDB, que deixou em 2001.