FHC: aborto não deve ser tratado como questão eleitoral

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou na tarde de hoje que nunca entrou em temas religiosos em campanhas políticas e avaliou que o debate em torno da descriminalização do aborto não pode ser tratado como um tema eleitoral. Em evento na capital paulista, no qual integrantes do PV anunciaram apoio no segundo turno ao candidato do PSDB à sucessão presidencial, José Serra, o ex-presidente defendeu que esses temas não sejam politizados. “Eu acho que os políticos não devem confundir a questão do Estado com a questão confessional”, disse. “É uma questão de convicção pessoal, e não política.”

Mas perguntado, o tucano considerou ser “natural” o fato do candidato do PSDB utilizar em sua campanha depoimentos de líderes religiosos. “Todos usam e isso é natural”, afirmou. “Os líderes religiosos são cidadãos e eles têm de conduzir os seus seguidores.” De acordo com FHC, é normal que as declarações sejam utilizadas tanto por Serra como pela candidata do PT, Dilma Rousseff. “Outra questão é entrar em debate propriamente religioso. Aí, não”, ponderou.

O tucano voltou a convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma conversa “cara a cara” quando o petista deixar o Palácio do Planalto. “Eu quero que ele, olhando na minha cara, diga as coisas que ele diz sem que eu esteja presente”, afirmou.

FHC lembrou que os dois se conhecem há “30 ou 40 anos” e antecipou o que espera de Lula na conversa. “Eu quero ver ele dizer que apoiou o Plano Real. Quero ver ele dizer que tudo começou no governo Lula”, desafiou. “Eu quero conversar cara a cara, e não na propaganda eleitoral.”

De acordo com o tucano, chegou o momento de o presidente pensar no Brasil, e não em tirar proveito das realizações de governo. “O Lula não precisa ser mesquinho para dizer que fez coisas boas. Eu reconheço as coisas boas que ele fez”, ressaltou.

O ex-presidente brincou que, apesar do petista não tê-lo chamado para uma conversa, ele o convida de antemão. “Dizem que sou pão-duro, mas o Lula (não chamou) nem para um cafezinho”, afirmou, entre risos. Perguntado se sairia do seu bolso o dinheiro para o café, FHC sugeriu que a bebida seja paga “meio a meio”.

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